Judiciário
Rir faz bem: projeto megalomaníaco da ‘nova Mataraca’ vira piada em reportagem da Folha de São Paulo
26/12/2023 08:39
Suetoni Souto Maior
Projeto do estúdio de arquitetura dinamarquês Henning Larse, com sede em Copenhagen.

Despois de desmoralizado pela falta de lógica, analisada em reportagens da imprensa paraibana, o projeto megalomaníaco da ‘nova Mataraca’ ganhou as páginas da Folha de São Paulo. Em matéria de capa publicada nesta terça-feira (26), o periódico de abrangência nacional mostra, sem esconder a surpresa, os números inflados do investimento apresentado pelo grupo chinês Brasil CRT Construção de Nova Cidade Ltda. O investimento foi cancelado pelos empresários após a repercussão negativa sobre o investimento de R$ 9 trilhões no empreendimento, quase o PIB do país em 2022.

A matéria lembra que no dia 11 de dezembro houve cerimônia na cidade com prefeitos da região, secretários estaduais, representante do governo federal, padre e vereadores, os envolvidos assinaram um protocolo de intenções. No evento, hinos da China e do Brasil e uma oração para abençoar o novo empreendimento. A promessa era de construção de um porto de águas profundas e uma cidade futurista com capacidade para abrigar 3 milhões de pessoas.

“Mataraca pode vir a ser no futuro a cidade mais moderna do Brasil e do continente americano, vivenciando um desenvolvimento jamais materializado em todo o país”, disse o mestre de cerimônias sobre a cidade anunciada para abrigar 3 milhões de pessoas —mais de três vezes a população de João Pessoa, capital do estado da Paraíba.

A companhia, com sede em Belo Horizonte, é comandada pelos chineses Jianing Chen e seu filho Ruotian Chen. Em conversa com a Folha, sustentam que os valores estão corretos e que têm capacidade para construir o empreendimento monumental no prazo tão curto. Seriam levados três anos para a construção do sonhado porto de águas profundas e cinco anos para a cidade. A Brasil CRT Construção de Nova Cidade Ltda., empresa sem site, telefone ou experiência prévia comprovada, garante ter capital social de R$ 800 bilhões —quatro vezes o capital social informado no CNPJ da Petrobras, maior empresa do Brasil.

Procurado pela Folha, o vice-cônsul da China no Recife, He Yongwei, não falou em fraude em conversa com a reportagem, mas reiterou que “não possui informações a respeito dessa empresa nem do projeto supracitado, e não tem nenhum contato com a empresa.”

Quando a Folha questionou a empresa como atrairia 3 milhões de pessoas para a região, o diretor-executivo Jianing Chen pediu que a reportagem “amplie sua visão de mundo”. Com desenvolvimento de indústria de alta tecnologia, diz, com direito a “pesquisa em fusão nuclear” e “desenvolvimento da indústria aeroespacial”, o “objetivo é que a nova cidade possa acomodar 35 milhões de pessoas” e “crie direta e indiretamente 20 milhões de empregos”.

Questionado de onde a empresa tiraria R$ 9 trilhões, Chen afirmou que, “quando o projeto começar, vocês vão ver quais consórcios de investidores estão envolvidos”, antes de emendar com um provérbio: “Grilos de verão não podem falar sobre o gelo, e sapos de poço não podem falar sobre o mar.”

Diante das suspeitas, os supostos investidores internacionais notificaram a Brasil CRT, diz Chen, para cancelar o empreendimento. “Iremos realizar outro projeto de investimento maior em outro estado do Brasil”, disse ele à reportagem.

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