Judiciário
Revelações de generais sobre plano golpista jogam Bolsonaro nas cordas às véspera dos de 60 anos do golpe militar
15/03/2024 18:29
Suetoni Souto Maior
Bolsonaro logo após derrota nas urnas, ao lado do ex-ministro Anderson Torres (Justiça), também investigado em suposta tentativa de golpe. Foto: Divulgação/ABr

Quem ainda tem dúvidas sobre a possibilidade de prisão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) precisa repensar seus conceitos. As investigações sobre a trama golpista para impedir a posse do presidente Lula (PT) têm implicado cada vez mais o ex-gestor. E a cereja do bolo foi revelada nesta sexta-feira (15), com o levantamento do sigilo dos depoimentos dos ex-comandantes Carlos Almeida Baptista Júnior, da Aeronáutica, e Marco Antonio Freire Gomes, do Exército. Os dois reafirmaram a legitimidade das minutas de golpe encontradas pela Polícia Federal com aliados do ex-presidente.

Em seu depoimento à Polícia Federal, o tenente brigadeiro do ar Carlos de Almeida Baptista Junior relatou que o general Freire Gomes chegou a ameaçar Jair Bolsonaro de prisão, caso o então presidente prosseguisse com o plano de golpe de Estado. A ameaça teria sido feita em reunião convocada com os comandantes das três forças (Exército, Marinha e Aeronáutica) na qual Bolsonaro teria revelado a intenção de dar um golpe de Estado. No encontro, o ex-presidente teria apresentado uma minuta visando o golpe de estado.

Dos comandantes das três forças, apenas o da Marinha, Almir Garnier Santos, teria colocado as tropas à disposição do presidente. As informações reveladas por Baptista Júnior seguem na minha linha do que foi dito anteriormente pelo tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro. Ele revelou em delação premiada o conteúdo da reunião com os comandantes militares voltadas para discutir a minuta do golpe. O encontro teria ocorrido quatro dias após a diplomação de Lula, ocorrida em 12 de dezembro de 2022. Naquele momento, militantes bolsonaristas lotavam a frente dos quartéis pelo país afora.

O depoimento foi dado no inquérito sobre uma trama golpista elaborada na cúpula do governo de Bolsonaro. O sigilo sobre as declarações foi tirado nesta sexta-feira (15) pelo relator do caso no Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Alexandre de Moraes.

“Depois de o presidente da República, Jair Bolsonaro, aventar a hipótese de atentar contra o regime democrático, por meio de alguns institutos previstos na Constituição (GLO ou estado de defesa ou estado de sítio), o então comandante do Exército, general Freire Gomes, afirmou que caso tentasse tal ato teria que prender o presidente da República”, disse o ex-comandante da Força Aérea Brasileira (FAB).

Ainda segundo Baptista Jr, Freire Gomes desincentivou Bolsonaro a se valer de teses jurídicas estranhas para dar um golpe, como a decretação de estado de sítio, estado de defesa, ou Garantia da Lei e da Ordem (GLO). De acordo com relatório da PF, Baptista Jr. disse que, em reunião com Bolsonaro, ele próprio deixou claro que se opunha a qualquer plano golpista e que não havia mais possiblidade do então presidente permanecer no cargo.

“Em outra reunião de comandantes das Forças com o então presidente da República, o depoente deixou evidente a Jair Bolsonaro que não haveria qualquer hipótese do então presidente permanecer no poder após o término do seu mandato. Que deixou claro ao então presidente Jair Bolsonaro que não aceitaria qualquer tentativa de ruptura institucional para mantê-lo no poder”, diz o relatório da PF sobre o depoimento.

As revelações ocorrem a poucos dias do 31 de março, data que marcará o aniversário de 60 anos do golpe militar de 1964, que é defendido pelo ex-presidente como um movimento democrático. A ditadura militar no Brasil permaneceu por quase 25 anos.

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