A defesa do Padre Egídio de Carvalho Neto conseguiu produzir, nesta semana, um fato político relevante ao relacionar, entre as testemunhas do religioso, um rol de 35 pessoas que vão do governador João Azevêdo (PSB) ao arcebispo da Paraíba, Dom Manoel Delson. Os resultados da empreitada são incertos, mas alguns efeitos práticos são inequívocos logo de partida: constranger os nomes citados e tumultuar a investigação. Isso porque, caso sejam aceitas no processo, algumas das testemunhas relacionadas terão papel meramente abonatório, sem condições, ao menos em depoimento, de contribuir com a elucidação dos fatos.
Isso fica patente quando você compara a quantidade de nomes apresentados com a regra processual, que admite apenas oito testemunhas por fato apurado. A apresentação das testemunhas ocorreu em resposta à denúncia de que o Padre Egídio teria desviado R$ 193.440,00 do Hospital Padre Zé, sendo R$ 122.000,00 para a compra de um veículo, em nome de uma ex-diretora da instituição de saúde, e o valor de R$ 71.440,00 na forma de fraude em contrato de locação, pelo período de 20 meses. Por isso, a apresentação de tantas autoridades e religiosos (veja lista abaixo) perde o sentido ante o efeito prático.
Não quero dizer, com isso, que entre as testemunhas arroladas não haja pessoas que eventualmente, no futuro, venham a ser implicadas. Todos os que cobriram a operação Calvário, mais recentemente, sabem que numa investigação que envolve tanto dinheiro com esta do Padre Egídio, algo em torno de R$ 140 milhões desviados, você puxa uma pena e vem uma galinha. Mas de prático, muitos dos arrolados terão condições apenas de dizer que conheciam o trabalho executado pelo padre, que o hospital realmente prestava serviços à população, mas que vão dar um perdidão ao serem questionados sobre as ilegalidades.
Só que quando o assunto disser respeito à ilegalidade em si, ao fato, ficará claro que ele aconteceu. O padre acumulou em sua propriedade 29 imóveis, sendo alguns de altíssimo padrão. Ele morava em uma granja repleta de obras sacras caras, com eletrodomésticos caríssimos, vinhos refinados e é impossível que ninguém se questionasse de onde vinha o dinheiro. Portanto, será difícil convencer a Justiça da seriedade de qualquer argumento que não corrobore com a prática do crime. Isso, com certeza, trará constrangimento às testemunhas, porque algumas delas teriam a missão de fiscalizar os recursos que eram desviados pelo padre.
A apresentação das testemunhas, agora, acontece depois de dois fatos relevantes relacionados ao empenho do padre para sair da cadeia. O primeiro foi uma tentativa de fechar um acordo de colaboração premiada. Isso foi rejeitado pelo Ministério Público da Paraíba porque o Grupo de Atuação Especial Contra o Crime Organizado (Gaeco) tinha mais evidências do crime que o apresentado pelo religioso. O outro foi a negativa da Câmara Criminal do Tribunal de Justiça ante a um pedido de liberdade do religioso da cadeia mediante o cumprimento de medidas cautelares.
A apresentação das testemunhas, portanto, busca dar a ideia de que há outros players no suposto crime que estariam sendo ignorados. O que se pode concluir da estratégia é que ela lança suspeições sobre um número grande de autoridades, abre o leque de atenções para múltiplas possibilidades, mas tem pouco efeito para o objetivo final: a saída do religioso da cadeia.
Veja a lista das testemunhas relacionadas:
Dom Frei Manoel Delson Pereira da Cruz – Arquidiocese
Padre Marcelo Monte de Sousa – Paróquia Jesus Cristo Rei
Padre Jairo Barbosa Neves – Paróquia Santo Antônio do Menino Deus
Padre Cláudio Augusto Guerreiro Álvaro – Paróquia São Pedro e São Paulo
Padre Irapuan Ramos da Silva Paróquia Jesus Ressuscitado
Padre José Alves de Oliveira Nossa Senhora da Soledade e São Sebastião
Padre Carlos Emanuel Cardoso de Lima – Paróquia São Pedro e São Paulo
Padre Cícero Salvador Vieira – Paróquia Divino Espírito Santo
Padre Cláudio Euzébio de Amorim – Paróquia Nossa Senhora do Perpétuo Socorro
Padre Josinaldo Nascimento de Araújo – Paróquia Sagrado Coração de Jesus
Padre Luiz Brasiliano de Santana Martins – Paróquia Nossa Senhora das Dores
Padre Manoel Natalino Marques – Paróquia Nossa Senhora da Conceição
Mons. Ivonio Cassiano De Oliveira – Paróquia Santo Antônio de Lisboa
Adriano Cezar Galdino De Araújo – Assembleia Legislativa do Estado da Paraíba
Carlos Tibério Limeira Santos Fernandes – Secretaria de Estado da Administração
Yasnaia Pollyanna Werton Dutra – Secretária de Estado do Desenvolvimento Humano
Lídia Dantas Werton (Mãe de Pollyana Dutra)
João Azevêdo Lins Filho – Av. Min. José Américo de Almeida
Pavlova Arcoverde Coelho Lira – Presidente Comissão de Controle Interno
Jhony Wesllys Bezerra Costa – Secretário de Estado de Saúde
Renata Valéria Nóbrega – Secretária Executiva de Estado de Saúde
Fábio Antônio da Rocha Sousa– Ex- Secretário de Saúde de João Pessoa
Luis Ferreira Filho – Secretário Municipal de Saúde/JP –
Andreia Ribeiro Wanderley (convênios HPZ)
Renata Queiroga da Costas Barros (Assistente Social HPZ)
Alessandra Regina Provenzano da Silva Spinelly (Patrimônio HPZ)
Yuri Souza Marues Aguiar (Responsável pelos convênios pela SEDH)
Lidia Gomes Pedrosa Sousa (Comissão de Avaliação e Monitoramento de Projetos da Sec. Municipal de Saúde de João Pessoa)
Janiza Carvalho da Costa (Gerente da Célula Orçamentária em Saúde – COPS)
Christina Targino Fernandes Gomes (Fundo Municipal de Saúde de JP)
Maria Goretti Felismino Duarte Rolin (Coordenadora de Projetos da ASA)
Maria Jullianna Gomes do Nascimento (Coordenadora ASA)
Geraldo Tadeu Indrusiak da Rosa (Ex-Vice-Presidente do Instituto/Hospital e atual Presidente do Conselho Regional de Administração /PB)
Samuel Rodrigues Cunha Segundo (primeira pessoa presa na operação – solto em seguida)
Karina de Alencar Torres – Delegada de Polícia Civil
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