Executivo
Os candidatos a prefeito e a armadilha da polarização… para as pessoas
06/04/2024 11:54
Suetoni Souto Maior
Eleitores só poderão ser presos em caso de flagrante delito. Foto: Divulgação

As movimentações para a disputa municipal, neste ano, têm aberto espaço para uma busca incessante da nacionalização dos debates municipalistas. Este não é um fenômeno novo, mas agora é revestido da busca pela repetição, na paróquia, da polarização crescente das eleições presidenciais. Este quadro está bem presente em João Pessoa, onde os petistas correm para fazer frente ao bolsonarismo, que, depois de um engalfinhamento galopante, conseguiu se organizar em torno dos nomes do ex-ministro Marcelo Queiroga (PL) e do pastor Sérgio Queiroz (Novo). O que ocorre em João Pessoa é similar ao quadro de outras 11 capitais.

Este fenômeno de tentativa de contaminação das disputas locais pela polarização nacional não é novo. Ele foi tentado em outras eleições e, no geral, empobrece o debate sobre o que mais interessa à municipalidade, que precisa ser sobre questões relacionadas a mobilidade, emprego, saúde e educação, os serviços públicos propriamente ditos. Quem baseou as campanhas nisso, até aqui, naufragou. O comunicador Nilvan Ferreira (Republicanos) fez isso em 2020, na disputa pela capital, e em 2022, concorrendo para governador. Perdeu nas duas vezes e mudou o tom dos discursos, agora, fugindo do bolsonarismo, mas sem abraçar ao lulismo.

Esses naufrágios de Nilvan decorreram, também, da falta da dualidade. De você ter, de um lado, um candidato de extrema-direita representando as ideias do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e do outro um postulante de esquerda, alinhado ao presidente Lula (PT). E ambos competitivos, vale ressaltar. Tudo indica que não teremos novamente isso na capital paraibana, visto que o postulante mais bem colocado nas pesquisas, o prefeito Cícero Lucena (PP), é um nome do centro que busca o apoio da esquerda, sem abandonar as contribuições da direita.

Da esquerda lulista vimos muito pouco na capital paraibana, já que o partido está dividido entre candidatura própria com Cida Ramos ou Luciano Cartaxo ou mesmo o abraço a Cícero Lucena. Embalado para presente está apenas o bloco bolsonarista que deve ter Queiroga e Queiroz, mesmo que ainda com a indefinição sobre o vice a ser indicado pelo Novo. Se for o pastor, o grupo ganha força para sonhar com o segundo turno. A eleição de 2022 mostrou João Pessoa como uma cidade que rumou para o conservadorismo, onde Bolsonaro teve quase a metade dos votos. E este é um capital eleitoral importante para a extrema-direita.

O problema da polarização é que as suas bandeiras mais estridentes se comunicam pouco com o dia a dia dos serviços públicos. Quando o assunto é saúde (a principal preocupação das pessoas em todas as pesquisas realizadas), vai ter gente mais preocupada em discutir aborto e cloroquina que a necessidade de mais serviços no postinho. A crítica aqui, vale ressaltar, não é à discussão sobre o aborto, que é necessária. Só que este é um tema para o debate no Congresso, que é a arena própria para o assunto. Para as cidades, a preocupação precisa girar em torno dos serviços de assistência.

Essa forçação de barra é muito espelhada no que é visto nos debates nacionais, calcados em uma polarização entre progressistas e conservadores. Não raro, um dos lados separa o joio do trigo e usa o joio como ferramenta eleitoral. E como tem funcionado, o recurso tem sido tentador. Os dois lados têm demonstrado capacidade de atrair um terço do eleitorado para si, o suficiente para colocá-los no segundo turno e, a partir daí, tudo abaixo do pescoço é canela. É campo para disputa e leva quem erra menos, em um vale-tudo que por vezes fere de morte a verdade e o que mais interessa, o bem-estar da população.

Esse recrudescimento de posições políticas tem inundado as discussões acadêmicas e o mercado editorial. E algumas teorias mostram o porquê do acirramento, estimulado em grande parte pelos algorítmos das redes sociais. Quem busca informações sobre a esquerda é estimulado com mais e mais conteúdos pensados sobre medida para ele. O mesmo ocorre em relação à direita e à extrema-direita. Este último grupo é o que melhor se move neste campo por vezes nebuloso e recheado de fake news. E é destes canais que vêm os conteúdos voltados para moldar o pensamento do grupo, por vezes com respostas simples e erradas para tudo.

Esse fenômeno é descrito como viés de confirmação, quando as pessoas só acreditam no que atende suas crenças pessoais, e é um campo fértil para o empobrecimento dos debates políticos. Ele tira do foco das discussões sobre como resolver o problema do abandono do Centro Histórico e coloca no lugar elocubrações infrutíferas sobre ‘mamadeira de piroca’ ou outras baboseiras distópicas. Por isso, o cidadão precisa ficar atento ao debate para que ele gire em torno do que realmente interessa em uma eleição municipal. E isso, lógico, pode ocorrer sem ferir a crença política de ninguém.

Matéria da Folha de São Paulo deste sábado (6) mostra que este quadro de polarização é visível em 12 capitais. São elas: Belo Horizonte, Fortaleza, Curitiba, Manaus, Goiânia, Cuiabá, Campo Grande, João Pessoa, Maceió, Aracaju, Florianópolis e Vitória. A capital paraibana entrou nesta, certamente, porque o PT colocou a cidade como uma das prioridades para “deter o avanço do bolsonarismo”, junto com Recife, Rio de Janeiro, Natal e Curitiba. Mas o retrado disso, por enquanto, não é visto por aqui. Ele vai depender, efetivamente, do crescimento do bloco de extrema-direita nas pesquisas, o que poderá ocorrer mais à frente.

O que se tem para hoje, por assim dizer, é que os discursos já estão prontos e os players já estão em campo.

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