Judiciário
Operação Indignus mostra como a fé e caridade foram transformados em usura e ostentação
05/10/2023 16:38
Suetoni Souto Maior
Gaeco cumpriu mandados em imóveis de alto padrão, por causa das denúncias de desvio de recursos no Padre Zé. Foto: Divulgação

A operação Indignus, desencadeada nesta quinta-feira (5) pelo Grupo de Atuação Especial Contra o Crime Organizado (Gaeco), escancarou para todos nós o inapropriado uso da fé e da caridade para o enriquecimento ilícito. Tudo ainda está em fase de investigação, mas as primeiras notícias sobre o caso são estarrecedoras. A Força-Tarefa criada para investigar supostas irregularidades na gestão dos recursos do Hospital Padre Zé e da Ação Social Arquidiocesana (ASA) encontrou, durante o cumprimento de mandados de busca e apreensão, um rastro de riqueza onde deveria haver simplicidade.

Neste caso, me refiro aos imóveis visitados, inclusive apartamentos de alto padrão em João Pessoa e em São Paulo. Foram cumpridos 11 mandados de busca e apreensão em endereços do Padre Egídio de Carvalho Neto e das ex-diretoras Jannyne Dantas (ex-diretora administrativa) e Amanda Duarte (ex-tesoureira). O religioso comandou o hospital junto com as duas auxiliares. Ele indicava os investimentos também da ASA. E, neste caminho, as suspeitas são de que grande parte dos recursos de doação foi desviado para a compra de imóveis e itens de luxo.

Na granja pertencente ao Padre Egídio, foi encontrado um fogão que faria inveja aos muito ricos da Paraíba. O equipamento, de origem italiana, foi adquirido por R$ 78 mil. Os vinhos também eram um capítulo à parte. Enquando os pacientes do hospital penavam por atendimento mínimo, a adega do religioso tinha mais de R$ 30 mil em vinhos. Há registros de compras de itens como lenços por mais de R$ 10 mil. Uma vida de luxo, para quem enquanto coordenador da ASA encarava miseráveis nas ruas, como os indígenas waraos, que lotam os sinais de trânsito de João Pessoa em busca de trocados.

A investigação, segundo o Gaeco, aponta para uma absoluta e completa confusão patrimonial entre os bens e valores de propriedade das referidas pessoas jurídicas com um dos investigados, com uma considerável relação de imóveis atribuídos, aparentemente sem forma lícita de custeio, quase todos de elevado padrão, adornados e reformados com produtos de excelentes marcas de valores agregados altos. As condutas indicam a prática, em princípio, dos delitos de organização criminosa, lavagem de capitais, peculato e falsificação de documentos públicos e privados.

A Força-Tarefa é comandada pelo Gaeco, em parceria com Polícia Civil da Paraíba, Secretaria de Estado da Fazenda da Paraíba e Controladoria-Geral do Estado da Paraíba. A expectativa é que muita coisa apareça no curso das investigações e, principalmente, que todos os culpados paguem pelo prejuízo.

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