Executivo
Ingenuidade? Ao comprar carro de luxo do Padre Egídio, arcebispo deveria ter desconfiado da fortuna do religioso
23/10/2023 08:28
Suetoni Souto Maior
Conhecido pelo trabalho dedicado ao Hospital Padre Zé, Egídio de Carvalho teria desviado R$ 140 milhões. Foto: Divulgação

A compra de um Jeep Compass pela Arquidiocese da Paraíba ao padre Padre Egídio de Carvalho Neto por R$ 165,8 mil merece atenção. O religioso é investigado por suposta construção de fortuna com o desvio de recursos de doações no período em que comandou o Hospital Padre Zé e a Ação Social Arquidiocesana (ASA). Há informações de que ao longo dos últimos anos, o pároco constituiu patrimônio que inclui apartamentos de alto padrão, granja recheada de obras sacras caras e padrão de vida compatível com o dos ricos do Estado. Isso tudo ocorreu não sem levantar suspeitas.

O blog teve acesso a informações de que o arcebispo Dom Manoel Delson foi alertado sobre o enriquecimento do padre, mas nunca deu ouvidos às informações. Sempre demonstrou confiança no trabalho do Padre Egídio. E a verdade seja dita: os órgãos fiscalizadores também não desconfiavam, porque o hospital era bem administrado. A unidade de saúde, por isso, foi o destino de diversas emendas apresentadas por parlamentares nos últimos anos e houve empréstimo de R$ 13 milhões destinados ao hospital. O problema é que pouco se sabe sobre o destino da dinheirama.

Dom Delson se disse traído ao tomar conhecimento da investigação, iniciada após um “despretensioso” furto de celulares doados pela Receita Federal. A traquinagem do ex-funcionário do hospital, Samuel Segundo, denunciada pelo padre, revelou um esquema muito maior de desvios que passaram a ser investigados também pela Polícia Civil e, mais recentemente, por vários órgãos em força-tarefa coordenada pelo Gaeco. O desconhecimento do arcebispo sobre o assunto, no entanto, causa surpresa quando se toma conhecimento da operação de compra do carro por R$ 165,8 mil.

Ao contrário do dito por Samuel, de que o carro foi doado à Arquidiocese da Paraíba, os documentos apresentados pela Igreja mostram que houve pagamento. Há até um comprovante de depósito na conta do Padre Egídio. Mas isso deveria ao menos ter despertado no arcebispo a suspeita de que o patrimônio do religioso tinha origem duvidosa. Afinal, o próprio comandante do clero em grande parte do Estado admitiu que os salários pagos aos padres giram em torno de dois ou três salários mínimos. Esse montante não oferece lastro para a compra de um carro de luxo.

Muitos dos defensores do Padre Egídio alegam que o patrimônio vultoso dele é fruto de herança. Acontece que, segundo o apurado pelo blog, os investigadores não encontraram até agora nenhum inventário que trate do assunto. Além disso, as informações indicam que os pais do religioso também não têm posses e havia familiares dele empregados no hospital. Tudo aponta, portanto, para uma confiança no padre incompatível com o merecimento. Se sabia que havia coisa errada, Dom Delson pecou por não ter mandado investigar. Se não sabia, foi ingênuo em demasia. Os dois caminhos são ruins.

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