No dia 30 de dezembro de 2002 o tenente-coronel Mauro Cid, então ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), ligou para a Receita Federal tentando a liberação de um conjunto de jóias valoroso, dado como presente ao Brasil pela Arábia Saudita. Os mimos foram apreendidos um ano antes, quando um militar da comitiva do então ministro Bento Albuquerque (Minas e Energia) tentou entrar no país com elas sem declarar na alfândega. Passados oito meses daquele episódio, tivemos nesta sexta-feira (11) uma pista do motivo da tentativa: as jóias seriam vendidas em um leilão, nos Estados Unidos, em fevereiro deste ano.
O pouque que foi revelado da operação desencadeada nesta sexta-feira mostra que a situação do ex-presidente não é nada boa. Eleito em 2018 com a bandeira de combate à corrupção, pessoas do entorno dele agora são acusadas de vender jóias do acervo pessoal da Presidência da República. Foram alvos dos mandados de busca e apreensão o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, Osmar Crivelatti; o advogado Frederick Wassef; tentente-coronel Mauro Cid, e a grande novidade, o pai dele, o general Mauro Lorena Cid, que foi colega de Bolsonaro no Exército.
Os mandados foram autorizados pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), relator do inquérito que apura a atuação de uma suposta milícia digital contra a democracia. A investigação, neste caso, trás dados elucidativos sobre um suposto esquema de venda dos itens, supostamente para favorecer o ex-presidente. Um áudio em poder da PF mostra diálogo entre Mauro Cid e o Marcelo Câmara, no qual falam sobre suposta destinação de 25 mil dólares para Jair Bolsonaro, pagamento que deveria ocorrer em mãos.
“Tem vinte e cinco mil dólares com meu pai. Eu estava vendo o que, que era melhor fazer com esse dinheiro levar em ‘cash’ aí. Meu pai estava querendo inclusive ir ai falar com o presidente (…) E aí ele poderia levar. Entregaria em mãos. Mas também pode depositar na conta (…). Eu acho que quanto menos movimentação em conta, melhor né? (…)”, diz Mauro Cid. Marcelo Câmara responde, em mensagem de texto, sobre esse assunto. Diz: “Melhor trazer em cachê”. Em seguida, manda uma outra mensagem: “Ok ciente”.
Em seguida, Mauro Cid relata a Marcelo Câmara que não conseguiu vender, nos Estados Unidos, as esculturas douradas em formato de palmeira e de barco, recebidas por Bolsonaro no exercício da Presidência da República em visita ao Bahrein. Cid diz que a operação não foi concluída porque as peças não são de ouro maciço – e que ainda tentava negociar com outro homem, não identificado.
“(…) aquelas duas peças que eu trouxe do Brasil: aquele navio e aquela árvore; elas não são de ouro. Elas têm partes de ouro, mas não são todas de ouro (…) Então eu não estou conseguindo vender. Tem um cara aqui que pediu para dar uma olhada mais detalhada para ver o quanto pode ofertar (…) eu preciso deixar a peça lá (…) pra ele poder dar o orçamento. Então eu vou fazer isso, vou deixar a peça com ele hoje (…)’.
Leilão de kit de joi as
Ainda no áudio, Mauro Cid compartilha com Marcelo Câmara informações sobre um “kit”, contendo um relógio, que iria a leilão no dia 7 de fevereiro de 2023. O ex-ajudante de ordens da Presidência da República não detalha o kit no áudio – mas a PF identificou que este era o kit de joias masculinas recebido por Jair Bolsonaro na Arábia Saudita, e que o Tribunal de Contas da União (TCU) ordenou que fosse devolvido ao governo meses depois. “(…) o relógio aquele outro kit lá vai, vai, vai pro dia sete de fevereiro, vai pra leilão. Aí vamos ver quanto que vão dar(…)”, diz Mauro Cid.
As informações reveladas até agora dão conta de que as joóias foram transportadas em avião da Fab, o mesmo que levou Bolsonaro para os Estados Unidos após a derrota. A situação é difícil para o ex-presidente.
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