Judiciário
De Alexandre de Moraes a Umberto Eco: o conceito de que “a internet deu voz aos imbecis”
15/05/2022 09:17
Suetoni Souto Maior
Alexandre de Moraes deve encaminhar inquérito para a PGR nesta terça. Foto: Marcelo Camargo/ABr

“Normalmente, eles [os imbecis] eram imediatamente calados, mas agora eles têm o mesmo direito à palavra de um Prêmio Nobel”. A frase é de Umberto Eco, um escritor e filósofo italiano falecido em 2016. Ela foi dita um ano antes, em meados de 2015, para explicar a máxima, também de autoria dele, de que “as redes sociais dão o direito à palavra a uma legião de imbecis”. O tema foi revisitado neste sábado (14) pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), e gerou muita polêmica. Ele disse que “a internet deu voz aos imbecis”.

As falas foram proferidas por motivos diferentes, mas como duas retas paralelas, elas certamente se encontram no infinito. O filósofo italiano, autor do best-seller O nome da Rosa, àquela altura, demonstrava incômodo com a precariedade das ideias propagadas nas redes. Ele dizia que “os imbecis” antes falavam apenas “em um bar e depois de uma taça de vinho, sem prejudicar a coletividade”. E no caso de Alexandre de Moraes, ele alerta para algo mais grave: a instrumentalização de “milícias digitais” com propósitos muito claros. Ou seja, os efeitos das antes inocentes conversas de bar.

De Alexandre de Moraes a Umberto Eco: o conceito de que  “a internet deu voz aos imbecis”
Umberto Eco demonstrou incômodo com o espaço dado aos imbecis nas redes sociais. Foto: Divulgação/UFRS

As declarações do ministro foram dadas durante o Congresso Brasileiro de Magistrados, realizado na Bahia. Na oportunidade, ele disse ainda que o Supremo “não vai se acovardar” diante das milícias digitais. “A internet deu voz aos imbecis. Hoje, todo mundo é especialista. A pessoa bota terno, gravata, coloca painel falso de livros atrás e começa a falar desde a guerra da Ucrânia até o preço da gasolina, passando pelo Judiciário e acaba sempre atacando o Supremo”, falou o ministro, que acabou vendo horas mais tarde a frase viralizar nas redes sociais, com constantes ataques a ele e à Suprema Corte.

As redes sociais têm sido uma fonte constante de preocupação para os ministros do Supremo, principalmente pelas campanhas para desacreditar o processo eleitoral. As urnas eletrônicas são alvos preferenciais dos ataques vindos, principalmente, da militância fiel ao presidente Jair Bolsonaro (PL). O tema, com muita frequência, fica entre os mais comentados nas redes, apesar das ofensivas da Suprema Corte e do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para mostrar o histórico de segurança das urnas eletrônicas. Mas afora isso, é evidente que generalizar o senso de imbecilidade dos usuários é burrice. Tem muita estratégia nisso tudo.

Os defensores do descrédito das urnas, ou milícias digitais, como prefere o ministro, são beneficiados pelos algoritimos das redes sociais, que potencializam a atuação dos “haters” (ou odiadores, em tradução literal). Eles conseguem mais difusão das suas ideias, independente da veracidade delas. Os canais de moderação das redes sociais andam em progressão linear na exclusão destes conteúdos, enquanto a capacidade de espalhar desinformação das redes segue em progressão geométrica. E quando se fala da “terra sem lei” chamada Telegran, é preciso encontrar uma nova unidade de medida que extrapole a lógica matemática.

“Tenho certeza que o Supremo Tribunal Federal, todos vocês aqui, nós vamos garantir a democracia no Brasil com eleições limpas, transparentes e com urnas eletrônicas. Em 19 de dezembro, quem ganhar vai ser diplomado. E o Poder Judiciário continuará fiscalizando e garantindo a democracia”, disse o ministro na palestra. Moraes é relator no Supremo do inquérito que apura a possível atuação de grupos de milícia digital que apoiam o presidente Jair Bolsonaro nas redes sociais. Esses grupos seriam responsáveis por insuflar declarações com intuito de colocar em dúvida a lisura do sistema eleitoral brasileiro.

O efeito danoso das redes sociais para a democracia foi previsto, lá atrás, pelo filósofo italiano. Agora, resta saber como a democracia e as instituições que dão sustentação a ela vão agir para devolver os haters aos papos de botiquim.

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