Judiciário
Calvário: em delação, advogado descreve Coriolano como “gerentão” da propina
20/03/2021 09:29
Suetoni Souto Maior
Defesa de Coriolano Coutinho pediu para ele a extensão de benefício concedido a outros réus. Foto: Divulgação

Todos acompanhamos, em fevereiro, as prisões do empresário Pietro Harley, do ex-secretário estadual Edvaldo Rosas e de Coriolano Coutinho, irmão do ex-governador Ricardo Coutinho (PSB). Eles foram alvos da 11ª e da 12ª fases da operação Calvário, desencadeada pelo Grupo de Atuação Especial Contra o Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público da Paraíba. O que poucos sabem é que no centro de tudo estava a delação do advogado Bruno Donato, que, entre outras coisas, apresentou Coriolano como uma espécie de “gerentão” da propina.

Mas não apenas Coriolano foi citado como peça-chave no suposto esquema de propina envolvendo contratos do governo do Estado nas áreas de saúde, educação. Há ainda relatos que permeiam operações não republicanas em contratos do programa Empreender-PB, usado, segundo a delação, para irrigar campanhas eleitorais através do uso de laranjas. Todo o conteúdo foi acompanhado de vasto acervo documental, disponibilizado em três volumes entregues ao Gaeco. A delação foi formulada em janeiro do ano passado, a pedido do próprio Bruno.

No relato, ele conta como se tornou próximo de Pietro Harley, que, segundo a delação, funcionava como grande intermediário na compra de material didático vendido ao governo do Estado. A indicação para o cargo de advogado do empresário teria sido feita por Coriolano, que chegou a usar Bruno Donato como “menino de recado” para fazer ameaças veladas, em 2012, ao então secretário de Saúde, Waldson de Souza. Waldson, segundo o relato, estaria segurando os processos de pagamentos de livro sobre a dengue.

“Ele perguntou porque Waldson estava segurando tanto o processo, e que ele tomasse cuidado, pois hoje ele era secretário, amanhã ele não poderia ser…”, contou Bruno Donato. Os contratos tinham a ver com o fornecimento de livro sobre o enfrentamento do surto de dengue, vendido pela editora DCL, por intermédio de Pietro Harley. O caso, na época, gerou desconforto após denúncia feita pelo então deputado federal Manoel Júnior (SD), hoje prefeito de Pedras de Fogo. O negócio não teve continuidade por causa de questionamentos de CGU, MPF e PF.

A delação insere vários personagens da política paraibana no suposto esquema, com maior ou menor envolvimento. Pietro Harley, Edvaldo Rosas e Coriolano são personagens centrais, junto com Waldson de Souza. É citado um episódio, inclusive, que num pagamento de propina remetida por Harley por Bruno Donato para ser entregue a Waldson e Edvaldo Rosas. Na entrega, segundo o relato, Edvaldo pega os R$ 90 mil e diz que deixará a parte dele em casa.

De acordo com o relato de Donato, Waldson lembra a Edvaldo que o dinheiro seria para a campanha de Estela Bezerra (PSB), em 2012. Ela disputou a prefeitura de João Pessoa. Ouve, então, que era pouco dinheiro e que não faria falta. Há informações também de que parte do dinheiro de propinas teria sido usado, também, para pagar prefeitos no Sertão. Entre os citados na entrega de dinheiro, aparece também o deputado estadual Ricardo Barbosa (PSB), que até o ano passado era líder do governo na Assembleia.

Como há indícios de que Pietro Harley e Edvaldo Rosas fizeram delação premiada recentemente, sabe Deus o que sairá daí. Dos presos em faveiro, apenas Coriolano Coutinho teve o pedido de conversão da prisão em medidas cautelares.

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