Executivo
Após um ano: reação democrática ao 8 de janeiro foi importante, mas golpismo não acabou
08/01/2024 08:55
Suetoni Souto Maior
Apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro promoveram quebra-quebra durante ato em Brasília. Foto: Marcelo Camargo/ABr

Há exatos 365 dias, assistimos pela TV, atordoados, à destruição, no Distrito Federal, causada por apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Derrotado na eleição, o ex-gestor tinha ido para os Estados Unidos e havia uma semana que o comando do país tinha mudado de mãos, com a posse do presidente Lula (PT). Os militantes de extrema-direita invadiram as sedes do Executivo, do Legislativo e do Judiciário, buscando criar um clima de instabilidade para que as Forças Armadas se sentissem à vontade para um golpe de estado, nos moldes do ocorrido em 1964. Uma tentativa que acabou repelida pelas instituições democráticas.

De Araraquara, em São Paulo, onde se encontrava para visitar vítimas de tragédia causada pelas chuvas, Lula comandou a reação. Decretou intervenção na Segurança do Distrito Federal e o interventor, Ricardo Capelli, ordenou a ação das tropas da Polícia Militar. O Supremo Tribunal Federal (STF) fez a parte dele afastando o governador Ibaneis Rocha (MDB), aliado do ex-presidente, e determinando a prisão de toda a cúpula da Segurança Pública do DF, inclusive do então secretário Anderson Torres, que se encontrava em férias nos Estados Unidos. Buscas feitas pela Polícia Federal encontraram uma minuta golpista na casa dele.

Quase 2 mil golpistas foram presos naquele dia e outros tantos foram para a cadeia de lá para cá, mas sem que saibamos quem foram todos os planejadores e financiadores dos atos. O que há de sobra é a convicção de que a turba golpista não era desgovernada. As investigações da PF mostraram que os acampamentos montados em áreas militares tinham o papel não apenas de reforçar tentativas criminosas de convencer as Forças Armadas a entrarem em uma aventura golpista, difícil de ser sustentada sem apoio internacional. Eles serviram, também, para orientar os passos de muita gente doida de pedra.

Mas é bom que se diga: gente doida também comete crime. E eles foram cometidos em demasia na invasão dos Poderes da República e antes disso. Ficou claro que as reações de Executivo, Legislativo e Judiciário contra os atos antidemocráticos, da forma que aconteceram, sufocou, ao menos momentaneamente, o golpismo incentivado de forma escancarada pelo ex-presidente durante quatro anos. Ele se manifestou na forma do estímulo aos ataques a outros Poderes da República. Isso ocorreu em discursos em atos de 7 de Setembro e no cercadinho montado no Palácio do Planalto para responder a perguntas de apoiadores.

A reação sufocou o golpismo, mas é bom ficar atento. Este um ano desde as invasões serviu para fortalecer a democracia e para saber que ela resistiu, apesar do flerte demasiado também de militares com um indesejado governo de exceção. A vitória, portanto, foi muito boa e animadora, mas é importante todos os que amam a liberdade ficarem atentos, pois a brasa do golpismo continua acesa e encanta idiotas e espertos de plantão. A sucessão de fatos ocorrida após 1964 mostra que as ditaduras não são ruins para todo mundo. Tem gente que lucra, e muito, com a desgraça coletiva.

Portanto, os atos previstos para esta segunda-feira, em resposta ao 8 de janeiro, precisam ser representativos para que aquilo que vimos no ano passado nunca mais aconteça.

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