Talvez o distanciamento histórico faça justiça ao cardiologista paraibano Marcelo Queiroga. Ele assumiu o Ministério da Saúde em meio a uma crise gerada por uma pandemia agravada pela incompetência galopante do antecessor, Eduardo Pazuello. Àquela altura, em 2021, mais de 400 mil pessoas já haviam morrido. O país precisava vacinar e fazer isso com urgência. O trabalho foi feito com relativa eficiência. E mesmo contando algumas omissões e negacionismos, as vacinas foram aplicadas e a Covid-19 deixou de ser o fantasma que assustou o país por dois anos.
Mas isso tudo não foi o suficiente para impedir que Queiroga fosse hostilizado e perdesse as estribeiras nesta quinta-feira (3). Durante palestra no 8º Congresso Norte/Nordeste de Secretarias Municipais de Saúde, evento que reúne secretários de Saúde de todo o país, ele foi vaiado pela quase totalidade dos presentes. A cena vexatória poderia talvez ser contornada pelo ex-ministro, mas ele pôs mais brasa na fogueira e começou a criticar os presentes. A resposta foi uma vaia maior ainda, quase ensurdecedora e tomou todo o auditório.
E por que isso? Simplesmente porque o ministro resolveu a certa altura do histórico da gestão trocar o jaleco pela política. De tom ameno e pacificador, se transformou em uma figura radical e negacionista, em vários momentos. O gestor foi ao longo do tempo que passou na parta se moldando à personalidade do presidente Jair Bolsonaro (PL). Isso fez com que ele nunca aceitasse a orientação da Conitec (Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde) sobre a ineficácia da cloroquina para tratar Covid-19. Isso só para citar um caso.
Em Sergipe, nesta quinta, ele poderia lembrar um pouco do trabalho positivo que fez no Ministério da Saúde, mas preferiu o confronto. “Disseram que iam comprar respirador. Não compraram nenhum. Zero. É assim que vocês querem unir o Brasil? Vocês vão ter a resposta em breve”, disse o ministro enquanto era vaiado. Ele ainda fez críticas à Venezuela, país que é alvo frequente do discurso bolsonarista, dizendo que aqueles que o vaiavam deveriam conhecer o Projeto Acolhida em Roraima, destinado a receber imigrantes da nação vizinha.
Ele saiu do palco acompanhado de seguranças e acenou com as mãos de maneira irônica em direção às pessoas que o vaiavam. O evento foi encerrado mais cedo devido ao clima de animosidade. Queiroga foi o quarto ministro da Saúde do governo de Jair Bolsonaro e tende a deixar a pasta de forma melancólica. Talvez no futuro, quando as pessoas se perguntarem quem era o ministro da Saúde na época da pandemia, aquele Queiroga do início do trabalho seja mais lembrado que o de agora.
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