O ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, entrou neste sábado (13) para o rol dos políticos vítimas de atentado. A lista inclui ainda o ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro (PL). O ato lamentável é um alerta sobre o efeito do extremismo que permeia o discurso de ambos e ainda sobre o lobby pró-armas. No caso norte-americano, o republicano escapou por muito pouco. Alguns centímetros para a direita e a bala de fuzil AR-15, disparada por um franco atirador, o teria matado.
Qualquer semelhança com o caso que quase vitimou o brasileiro não é mera coincidência. Os discursos adotados por Trump e copiados por Bolsonaro buscam converter adversários em inimigos, inflamando a militância. E isso tem consequência. Em março de 2018, uma caravana do então pré-candidato à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva (hoje presidente), foi alvo de vários disparos no Paraná. Na época, Bolsonaro adotava como estratégia de campanha o gesto de arminha com as mãos e defendia o armamento da população. Teve consequência.
No dia 3 de setembro de 2018, durante um comício em Rio Branco, no Acre, ele ergueu um tripé e bradou “vamos fuzilar a petralhada!” Três dias depois, em Juiz de Fora, em Minas, foi vítima de um atentado, esfaqueado por Adélio Bispo. O roteiro desta história todo mundo conhece. Houve comoção e a eleição do ex-presidente naquele ano. O episódio, no entanto, não arrefeceu os discursos inflamados e o ódio contra adversários, tampouco o lobby pró-armas. Elas foram liberadas em nível jamais visto no Brasil, um país que ostenta a triste marca de 19,4 homicídios por grupo de 100 mil, segundo levantamento de 2023.
Durante seu mantado, Bolsonato tentou a todo custo jogar o ato de Adélio Bispo na conta da esquerda, por causa do passado militante do agressor. As investigações mostraram apenas um louco, que agiu como lobo solitário e que alterou profundamente a história do país. Não é difícil imaginar que o mesmo seja feito nos Estados Unidos, com a inevitável politização do atentado. Joe Biden, atual presidente, condenou o ataque. Outros democratas fizeram o mesmo, ignorando o verdadeiro inimigo.
E por inimigos, neste caso, podemos elencar dois principais: o lobby pró-armas e a política do ódio aos adversários. A vítima da vez foi Trump, mas poderia ter sido Biden. A história norte-americana é marcada por mortes trágicas de presidentes. Certamente o leitor lembrou de Jhon Kennedy (1963) após essa introdução, por ter sido o último. Mas antes dele, vale lembrar, foram assassinados Abraham Lincoln (1865), James Garfield (1881) e William McKinley (1901).
O acesso facilitado às armas está no cerne da nação mais militarizada do mundo e há consequências. Apesar de baixa se comparada com a do Brasil, a taxa de mortes por 100 mil habitantes nos Estados Unidos é de 6,9, três vezes maior que a da Europa, que gira em torno de 2,2 por grupo de 100 mil. A comparação aqui é entre nações com níveis educacionais e sociais parecidos. No caso do nosso país, a coisa é bem pior.
Então, não custa apelar: menos armas, menos ódio e mais amor, por favor.
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