Executivo
Roraima: é muita terra pra pouco branco
06/02/2023 08:30
Suetoni Souto Maior
Com rios poluídos e sem ter onde plantar, indígenas viram crianças e adultos definharem por falta de comida. Foto: Divulgação

O fim de semana foi marcado por duas notícias impactantes em relação à Terra Indígena Yanomami, em Roraima: mais uma das crianças encontradas em estado de grave desnutrição morreu e os garimpeiros ilegais iniciaram a ‘fuga’ do território. O genocídio do povo foi estimulado nos últimos anos pela lógica governamental de que haveria terra demais para pouco índio. O governador do Estado, Antônio Denarium, brada para todos que os povos originários deveriam “se aculturar” e também se voltarem para o garimpo, o mesmo que tem trazido fome e morte por causa da poluição dos rios por mercúrio.

Acontece que toda história tem dois lados. Isso é mostrado pelo professor Estêvão Palitot, da Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Observando o outro lado em relação ao que é propagado pelos apoiadores do garimpo ilegal em áreas indígenas, ele provou que não faltam áreas para a exploração econômica dos “brancos” naquele estado. Roraima tem 223.645 km² de extensão e quando você tira a Terra Indígena Yanomami e os parques nacionais ainda restam mais 96 mil km², área próxima da existente em todo o Estado de Pernambuco. Só que enquanto nosso vizinho tem 9,2 milhões de habitantes, Roraima tem apenas 655 mil.

A Terra Indígena Yanomami tem 98 mil km² de extensão, dividida entre Roraima e Amazonas, para um povo com 35 mil habitantes, que pode ser encarado como guardião da diversidade biológica encontrada numa área que abrange dois países (Brasil e Venezuela). A ação e omissão do governador Antônio Denarium tem sido latente, com afirmações de que o garimpo traria desenvolvimento para os indígenas. A tese se parece com a mesma que reinou em Serra Pelada, no Pará, algumas décadas atrás. Mas a verdade é que lá, assim como era esperado para o território yanomami, virou apenas uma área desolada e imprestável.

No fim de semana, o anúncio do governo Lula (PT) de que retiraria todos os garimpeiros de áreas ilegais precipitou uma corrida para a saída dos criminosos. É esperado o envio de 500 homens da Polícia Federal (PF), Exército, Marinha, Força Aérea Brasileira, Ibama, Funai e Força Nacional para cumprir a determinação. O espaço aéreo já foi fechado para o trânsito de aeronaves usadas por garimpeiros e traficantes. São cerca de 20 mil homens e mulheres empregados na atividade ilegal. A tônica agora é prender e impedir a instalação da atividade ilegal.

Fica cada vez mais patente que o crime e o extermínio na região não se dava apenas por omissão dos governantes. Eles eram política “de desenvolvimento”.

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