Executivo
Queiroguinha intermediou liberação R$ 8,5 milhões do SUS para prefeitos paraibanos, revela O Globo
12/07/2022 07:19
Suetoni Souto Maior
Queiroguinha com o pai, Marcelo Queiroga. Foto: Reprodução/Instagram

Apesar de o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, dizer que as visitas do filho à pasta não passa de “visitas comuns que um filho faz ao pai no ambiente de trabalho”, as denúncias relacionadas com suposto tráfico de influência no ministério não param. A mais nova foi publicada pelo jornal O Globo, nesta terça-feira (12). O estudante de medicina Antônio Cristóvão Neto, o Queiroguinha, é pré-candidato a deputado federal pelo PL, partido do presidente Jair Bolsonaro.

Segundo documentos obtidos pelo periódico carioca e depoimentos de testemunhas, o jovem universitário de 23 anos esteve em Brasília por outra razão: intermediar a liberação de ao menos R$ 8,5 milhões de verba do Sistema Único de Saúde (SUS) para seis municípios da Paraíba, estado pelo qual pretende concorrer a deputado federal pelo PL, mesmo partido do presidente Jair Bolsonaro.

No dia 9 de março deste ano, às 11h33, Queiroguinha chegou ao Ministério da Saúde e, na sequência, três prefeitos da Paraíba fizeram o mesmo caminho. Eles subiram ao 5º andar para serem atendidos no gabinete de Queiroga. Entre os convidados, estava a prefeita de Riachão, Maria Da Luz Dos Santos Lima (PSDB).

“Foi bem proveitosa nossa ida ao Ministério da Saúde. Fui uma vez e gostei. Só não fui mais porque não estou indo para Brasília. O ministro prometeu um micro-ônibus, uma ambulância, e também uma emenda para equipamentos de raio-x e ultrassonografia”, disse a prefeita a O Globo.

Menos de um mês depois desse encontro, em 6 de abril, o ministro Marcelo Queiroga assinou uma portaria transferindo R$ 196 mil do Fundo Nacional de Saúde (FNS) para o Fundo Municipal de Saúde de Riachão. Esse repasse foi seguido de outras transferências que totalizaram R$ 1,7 milhão. O FNS administra recursos destinados ao SUS.

O prefeito de Marinaldo da Cruz, de Logradouro, na Paraíba, também colheu dividendos da reunião no Ministério da Saúde junto com Queiroguinha. Após a visita à pasta, a sua cidade com cinco mil habitantes recebeu R$ 1,4 milhão do Fundo Nacional de Saúde. “O ministro foi muito receptivo. Me recebeu muito bem, ele e toda a equipe dele — conta da Cruz, acrescentando: — Eu pedi um aparelho de ultrassonografia e também uns recursos de custeio. Tudo já foi pago”, disse.

No dia 2 de junho deste ano, o prefeito do município paraibano de Marizópolis, Lucas Gonçalves Braga (PSDB), conta que estava num jantar com Queiroguinha em Brasília quando foi levado ao encontro à sede do ministério da Saúde para “tirar uma foto com Queiroga”. “A gente estava jantando e eu pedi ao Queiroguinha para tirar uma foto com o ministro. Aí ele ligou (para Marcelo Queiroga) e disse: ‘Pai, estou com um prefeito aqui que quer conhecer o senhor”. Ele (o ministro) disse: “Claro, meu filho, pode vir aqui no gabinete'”, relembrou o prefeito em entrevista a O Globo.

Após esse encontro, o município de Marizópólis foi agraciado com R$ 1,5 milhão de verba do FNS. “Se ele (Queiroguinha) ganhar a eleição, claro que é bom para mim. Porque aí eu tenho um amigo deputado, a quem a gente pode recorrer para qualquer coisa”, diz Gonçalves.

O prefeito de Vista Serrana, Sérgio de Levi (MDB), também levou demandas ao ministro Marcelo Queiroga 13 dias após declarar, no dia 20 de maio, apoio a Queiroguinha para deputado federal. A visita ao gabinete do ministro aconteceu em 2 de junho. Um mês depois, em 2 de julho, Levi reforçou publicamente o seu apoio ao estudante de medicina. Procurado, Levi não retornou aos contatos. Questionada oficialmente, a prefeitura de Vista Serrana também não explicou qual foi o assunto da reunião no Ministério da Saúde nem respondeu se o prefeito recebeu promessa de recursos antes de declarar apoio a Queiroguinha.

Procurado, o ministro Marcelo Queiroga disse, por meio de nota, que “toda liberação de recursos orçamentários obedece a critérios técnicos, após rigorosa análise das áreas responsáveis, sem nenhuma interferência política” e que “os repasses acontecem de acordo com a aprovação do Orçamento pelo Congresso Nacional, sem priorizar nenhum estado”. Queiroguinha não retornou às tentativas de contato.

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