Judiciário
O médico, o monstro e a sobrinha arrependida por não ter denunciado antes o tio suspeito de estupro
07/08/2024 15:52
Suetoni Souto Maior
Casos de abuso sextual contra crianças são comuns no Estado. Foto: Reprodução/Canva

A denúncia de abuso de vulnerável praticado por um médico pediatra de 80 anos causou comoção e raiva entre os paraibanos nesta semana. A vítima, segundo a acusação, é uma criança de nove anos, que era atendida no consultório no momento do fato. O caso foi denunciado pela mãe e corria em segredo de justiça, por envolver uma criança. Por isso, até agora, conhecíamos o relato, mas não o personagem que faz lembrar, em certa medida, o romance “O médico e o monstro”, do escorcês Robert Louis Stevenson.

O nome do suspeito, no entanto, foi tornado público nesta quarta-feira (7), em relato emocionado feito pela sobrinha do médico Fernando Paredes Cunha Lima, até então detentor de boa fama. O relato de Gabriela Cunha Lima, hoje com 41 anos, é chocante. É envolto no ressentimento sobre um episódio ocorrido quando ela tinha apenas nove anos e no arrependimento de não ter denunciado o caso antes. Caso o tivesse feito, talvez tivesse evitado eventuais casos futuros.

Ela conta que veraneava na casa do tio, quando o fato ocorreu, em 1991.

“A gente frequentava a casa dele, veraneava. Em um desses dias, ele me acordou. Eu dormia no quarto da filha dele. Eu lembro que ele tinha voltado para almoçar. Ele ficou brincando comigo, dizendo que eu tinha acordado de madrugada com saudades dos meus pais. Eu fiquei sem entender, porque não lembrava de ter acordado de madrugada. Quando foi mais tarde, todo mundo desceu e ele me chamou no quarto”, relatou.

“Ele [Fernando Cunha Lima] abaixou a calça e pediu para eu colocar as mãos nos órgãos sexuais dele, ficar fazendo movimento. Ele pediu para eu baixar a minha calça e colocou a mão nos meus órgãos sexuais e pediu segredo”, contou Gabriela, sem esconder o arrependimento por não ter contado tudo antes. Ela disse que poderia ter feito isso aos 18 anos, mas acabou deixando passar. A mulher deve ser ouvida nesta quarta pela Polícia Civil.

O caso é sintomático do que ocorre todos os dias, inclusive envolvendo profissionais que, aparentemente, externam a imagem de pessoa respeitável. O sofrimento de Gabriela Cunha Lima, relatado em entrevista à TV Correio, mostra que a família não pode ficar calada em casos do gênero, mesmo que envolva relação de parentesco.

Afora isso, o desejável é que as investigações sejam rápidas e que o Conselho Regional de Medicina (CRM) exerça suas prerrogativas com muito rigor. Até porque quem procura atendimento quer um médico, não o monstro.

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