A velha frase do ex-governador mineiro Magalhães Pinto que relacionava a política às nuvens, nunca foi tão atual. A referência à mudança repentina das formações vale para se referir ao avanço do ex-presidente Lula (PT) sobre as candidaturas de Luciano Bivar (União Brasil) e André Janones (Avante). Dos dois casos, o primeiro era o mais difícil de se imaginar. Bivar, apesar de pernambucano como Lula, sempre ocupou o espectro de direita e liberal na política brasileira. Além disso, foi fiador em 2018 da eleição do atual presidente, Jair Bolsonaro (PL), principal adversário do petista.
Tudo isso, no entanto, tem caído por terra mais recentemente e estas articulações do plano nacional podem ter reflexos na Paraíba, mesmo que limitados. A proximidade entre Lula e Bivar tem um motivo prático. O presidente do União Brasil lançou o nome para a disputa da Presidência porque a possibilidade de ele ser reeleito deputado federal em Pernambuco era remota. A postulação a presidente, portanto, abriu caminho para que o partido se equilibrasse na corda em meio à polarização entre Lula e Bolsonaro. Isso fazia com que nomes do partido, nos estados, usassem Bivar para fugir das pressões para apoiar um dos dois.
Na Paraíba, o deputado federal Efraim Filho (União Brasil) disputará o Senado na chapa do deputado federal Pedro Cunha Lima, que concorre ao Governo. Apesar da nítida preferência por Bolsonaro, o parlamentar vem trabalhando uma campanha dissociada da disputa federal, até pelas condições impostas no Estado. De um lado, Bruno Robero (PL) exige o monopólio na busca dos votos dos eleitores do presidente. No outro pólo, Ricardo Coutinho (PT) faz o mesmo em relação a Lula. Essa receita poderá mudar, mesmo que de forma moderada, em um eventual apoio de Bivar ao ex-presidente.
O caminho para essa aproximação está feito. Lula deve apoiar a reeleição de Bivar em Pernambuco, para a Câmara dos Deputados. Há quem fale até em trabalho para que ele assuma a presidência da Câmara. Um obstáculo no Estado era a candidatura de Miguel Coelho (União Brasil), filho do ex-líder do governo no Senado, Fernando Bezerra Coelho. Essa resistência foi contornada. Outro grande fiador desta aliança é o prefeito de Salvador, ACM Neto. Este último lidera as pesquisas para o governo do Estado e já tem acordo de não agressão firmado com Lula. Os dois figuram, acreditem, como potenciais aliados ainda no primeiro turno.
Mesmo que seja possível uma aliança de Lula com o União Brasil para o primeiro turno, vale ressaltar, ela não deverá valer para todos os Estados. Em grande parte deles, o partido é próximo ao presidente Jair Bolsonaro. Um exemplo disso é o Paraná, onde o ex-juiz Sérgio Moro vai disputar uma vaga no Senado. Nestes casos, não deverá haver imposição. Aqui na Paraíba, dificilmente alguém verá Efraim pedir votos para Lula. Ele também não deve partir para o confronto. O mesmo vale para o deputado federal Julian Lemos.
No caso de Janones, a situação é mais facilmente contornável. O partido dele, na Paraíba, é comandado pelo presidente da Câmara de João Pessoa, Dinho Dowsley. O dirigente disse, em entrevistas recentes, que vai seguir o deputado federal Aguinaldo Ribeiro e o prefeito Cícero Lucena, ambos do PP. Os dois estarão no palanque do governador João Azevêdo (PSB), na disputa pela reeleição, e João já manifestou apoio a Lula. A tendência, portanto, é que estes apoios sejam acomodados por aí.
Em relação a Efraim Filho, uma provável uma aliança do União Brasil com o PT fará com que o nome dele seja dissociado cada vez mais de Bolsonaro, mesmo que ele não manifeste apoio a Lula, o que é o cenário mais provável. A conferir.
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