Chega ao fim a história de Joseph Aloisius Ratzinger com a Igreja Católica. O Papa emérito Bento XVI, que vivia recluso desde que renunciou à liderança da Igreja Católica em 2013, morreu neste sábado, aos 95 anos, no convento onde vivia no Vaticano. Ele foi o primeiro papa em 600 anos a renunciar à função, decisão que tomou em meio graves denúncia de corrupção e pedofilia na instituição. A saída de cena, naquele momento, ocorreu por falta de forças para combater os problemas que vinham se avolumando no seio da instiuição.
A renúncia ocorreu no dia 11 de fevereiro de 2013, um domingo de carnaval. Bento causou um terremoto na Igreja Católica quando disse que abandonaria o Pontificado após sete anos e meio por não se considerar mais apto para exercer o cargo. A inesperada renúncia e seu recolhimento ao mosteiro Mater Ecclesiae forçaram a comunidade religiosa a navegar por um mundo com dois Papas com estilos e visões diferentes sobre como a Igreja deve ser conduzida.
Bento XVI sucedeu o popular João Paulo II. A escolha dele, sete anos e meio antes da renúncia, foi considerada uma escolha óbvia, apesar da idade. Passou a ser chamado de Papa da transição por causa disso. Quando a fumaça branca saiu da chaminé da Basílica de São Pedro para anunciá-lo como Papa Ratzinger era o decano do Colégio de Cardeais e um dos colaboradores mais próximos a Paulo II, a quem sucederia. Após o longo e marcante Papado do polonês, prevaleceu o nome do homem que por quase 25 anos foi chefe da Congregação para a Doutrina da Fé e liderava a ala conservadora do conclave.
Especialistas divergem se Ratzinger, entretanto, gostaria de vencer a eleição. O religioso alemão era mais afeito ao discurso acadêmico do que a pronunciamentos públicos — sisudez ressaltada pelo carisma de seu antecessor e a popularidade e as reformas promovidas por seu sucessor , o argentino Jorge Mario Bergoglio, o Papa Francisco.
Nascido em Marktl am Inn, na Alemanha, em 16 de abril de 1927, Joseph Ratzinger teve uma trajetória similar à de outros jovens do país na sua época: integrou a Juventude Hitlerista e, depois, lutou na Segunda Guerra Mundial, mas desertou do Exército. Ordenou-se padre na década de 1950, e logo depois o doutorado em Teologia.
Foi um conselheiro teológico considerado liberal no Concílio Vaticano II (1962-1965), que efetuou reformas profundas nos rituais e nas pastorais católicas, mas assumiu uma linha cada vez mais conservadora nos anos seguintes, durante os protestos de 1968. Nomeado cardeal de Munique em 1977, assumiu apenas quatro anos depois o comando do escritório de doutrina da Santa Sé, já sob o comando de João Paulo II, em que lutou contra o que chamou, em homilias, de “doutrinas” movidas por “correntes ideológicas”.
Seu primeiro alvo foi a Teologia da Libertação, uma corrente nascida na América Latina que pregava a aproximação da Igreja e do Evangelho aos mais pobres. Ratzinger acusou seus líderes de deturpar os ensinamentos cristãos, manipulando seus fiéis com teses marxistas. Os mentores do movimento, como o teólogo brasileiro Leonardo Boff, foram punidos com o silêncio obsequioso — a proibição de falar — e deposição da cátedra.
Devido à influência de seu discurso no pontificado de João Paulo II, Ratzinger ganhou apelidos como “rotweiller de Deus” e, na Alemanha, de cardeal “panzer” — uma abreviação do substantivo panzerkampfwagen, que significa carro de combate. Ainda assim, os adversários consideravam o religioso que falava ao menos oito idiomas como um homem afável e culto.
Com informações de O Globo