“Eduardo Carneiro, jornalista!”, bradou uma manifestante do alto de um carro de som. De forma sincronizada, centenas de pessoas gritaram “presente!” A citação do nome do meu colega de profissão e irmão por afinidade, lembrado neste sábado (3) como vítima da Covid-19 em um protesto contra o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), mostra o quanto a gestão atrapalhada do governo na pandemia mexeu com o ânimo a população. As mortes, associadas às denúncias de corrupção, têm funcionado como combustível para as manifestações pelo Brasil afora.
Neste sábado, em João Pessoa, o nome de Eduardo integrou uma lista que continha dezenas de pessoas, inclusive outros muitos jornalistas, vítimas da Covid-19. É um recorte do que tem ocorrido no país dos 522 mil mortos pela pandemia. Isso depois de o presidente Jair Bolsonaro ter investido claramente numa política de imunidade de rebanho, fundada na tese de que as pessoas deveriam ir para a rua e se contaminar. Deu errado e isso tomou contornos mais graves após as denúncias de corrupção na aquisição de vacinas, que, lógico, precisam ser investigadas.
As manifestações ocorreram em João Pessoa, nas outras 25 capitais e no Distrito Federal. Essa foi a terceira mobilização em 35 dias pelo impeachment do presidente Jair Bolsonaro. Foi a primeira, também, depois do superpedido de impeachment protocolado na Câmara dos Deputados, na última quarta-feira (30). As novas denúncias de corrupção na compra de vacinas contra a Covid-19 investigadas pela CPI da Pandemia pressionam o governo federal.
Os atos foram preparados às pressas, depois que as organizações que puxam a iniciativa decidiram antecipar a mobilização. Até então, o ato seguinte seria em 24 de julho, mais de um mês depois do protesto de 19 de junho. A manifestação do dia 24, no entanto, está mantida. Em São Paulo, o ato deste sábado reuniu 5.500 pessoas na avenida Paulista, segundo estimativa da Polícia Militar. A PM afirmou que 9.000 pessoas participaram da manifestação anterior, em 19 de junho.
Segundo os organizadores, foram realizados atos em 312 cidades do Brasil, em todos os estados e Distrito Federal, além de 35 no exterior, em 16 países. Ainda conforme os organizadores, as manifestações reuniram ao todo cerca de 800 mil pessoas. Em São Paulo, os manifestantes ocuparam nove quarteirões da avenida Paulista quando começaram a se movimentar em direção ao centro da capital, por volta das 17h.
Os atos ocorrem em meio às discussões sobre as dificuldades do presidente na condução da crise sanitária, com repercussão na economia e no dia a dia das pessoas. São mais de 120 pedidos de impeachment contra o gestor, que encontram a resistência do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). As manifestações, por enquanto, não têm a força de derrubar o apoio conquistado por Bolsonaro no Congresso. Apesar disso, essas coisas a gente sabe como começam, nunca como elas terminam.
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