A madrugada do 23 de julho de 2016 ficou marcada na cabeça dos moradores do bairro do Bessa. Era um sábado. Naquele dia, de forma surpreendente, um grupo em pelo menos quatro veículos sitiou as imediações do Bessa Shopping, em João Pessoa, por volta das 4h30, e detonou os caixas eletrônicos da Caixa Econômica Federal. Nunca, os grupos apelidados de “novo cangaço” tinham usado de tamanha ousadia, atacando uma agência de uma capital. Nem Lampião, no século passado, tinha feito algo semelhante. A série Cangaço Novo, da plataforma Prime Vídeo, mostra um pouco desta atividade, hoje em declínio.
Este caso do Bessa aconteceu em um ano em que as ocorrências de ataques a banco na Paraíba somaram 106, sendo 64 casos relacionados exclusivamente a explosões. Acompanhei bem as histórias trabalhando entre o Diario de Pernambuco e o Jornal da Paraíba, quando a gente contabilizava casos de ataques quase que semanais. Em relação à Paraíba, o ápice dos ataques em 2015, quando foram registrados 132 ocorrências. O dado importante é que agora, em 2023, nenhuma explosão foi registrada na Paraíba, algo parecido com o que tem ocorrido em outros estados.
O blog procurou ouvir opiniões a respeito das causas da redução das ocorrências na Paraíba e no Nordeste. Um dos pontos narrados por especialistas foi o confronto feito pela política, de forma ordenada, em todos os estados. Aqui na Paraíba, a aquisição de aeronaves e o combate mais efetivo aos bandidos transformou a atividade em algo arriscado demais para os assaltantes. O coordenador do Grupo de Atuação Especial Contra o Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público da Paraíba (MPPB), Octávio Paulo Neto, lembrou que mais de 60 criminosos morreram em confronto.
Há o que comemorar na redução dos assaltos? Lógico que sim. Mas há outras nuances a serem observadas. Octávio Paulo Neto diz que, em muitos casos, houve apenas mudança da atividade criminosa. Muitos partiram para os ataques virtuais, também lucrativos e menos arriscados do ponto de vista de confrontos com a polícia. Em conversa recente com o secretário de Segurança da Paraíba, Jean Nunes, vi bem que o pólo da preocupação mudou. Hoje, tem chamado muito a atenção das forças de segurança a proliferação das facções que atuam no tráfico de drogas. O caminho para enfrentar este outro fantasma, lógico, será também a união das forças de segurança.
Sobre a série da Prime, faço minhas as palavras do jornalista André Cananéa, em artigo publicado no dia 22 do mês passado, em A União: “Cangaço novo é arretado!”. A produção traça um ótimo comparativo entre o novo e o velho cangaço, entre Ubaldo, personagem de Allan Souza, e Virgolino Ferreira, o Lampião. Ambos com pais assassinados, vítimas da exclusão social e vivendo em um campo fértil para o uso da violência como caminho para a progressão social. Nos dois casos, houve a adoção de um código de conduta criminoso, que disputava em violência e método com o establishment “legal”.
No mais, faz gosto ver os atores paraibanos brilhando na trama, com Marcélia Cartaxo e Luiz Carlos Vasconcelos em papéis destacados. A série Cangaço Novo é muito válida para que se compreenda o traço marcante de uma atividade que, graças a Deus, está em declínio.
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