Executivo
Ao Globo, presidente do PL diz que todos no entorno de Bolsonaro tinham minuta golpista em casa
27/01/2023 07:21
Suetoni Souto Maior
Valdemar da Costa Neto tenta isentar Bolsonaro das acusações de golpismo e não acredita em prisão do colega de partido. Foto: José Cruz/ABr

Minutas golpistas semelhantes à encontrada na casa do ex-ministro da Justiça, Anderson Torres, poderiam ser encontradas nas casas de qualquer dos aliados mais próximos do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). A garantia foi dada em entrevista concedida pelo presidente nacional do partido dele, o ex-deputado federal Valdemar da Costa Neto. A informação foi veiculada nesta sexta-feira (27) no jornal O Globo. Ele diz que após a derrota de Bolsonaro sobraram propostas apresentadas por advogados, com as teses mais loucas, para tentar impedir a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Costa Neto disse que houve uma pressão gigante dos golpistas sobre o ex-presidente, por acharem que ele é “muito valente, meio alterado, meio louco, achava que ele podia dar o golpe“. O dirigente admite que o ex-presidente não fez isso porque não viu maneira de fazer e cobrava sempre soluções que estivessem dentro da lei. As teses golpistas foram alimentadas pelos bolsonaristas por meses, até culminar com a invasão das sedes dos Três Poderes por militantes radicalizados que buscavam arrastar as Forças Armadas para uma aventura golpista.

O ex-ministro Anderson Torres foi preso por causa de supostas omissões enquanto secretário de Segurança do Distrito Federal no dia da invasão do Supremo Tribunal Federal (STF), do Palácio do Planalto e do Congresso Nacional. Um mandado de busca e apreensão cumprido na casa dele a pedido do ministro Alexandre de Moraes, da Suprema Corte, encontrou o documento golpista. Valdemar diz que todos os que chegaram a ele, apresentados por advogados, foram destruídos.

Veja abaixo o trecho da entrevista que trata do assunto:

A minuta golpista encontrada na casa do ex-ministro da Justiça Anderson Torres chegou a ser tratada no entorno do Bolsonaro?

Ele nunca falou nesses assuntos comigo (sobre contestar a eleição). Um dia eu falei: “Tudo que temos que fazer tem que ser dentro da lei.” Ele falou: “Tem que ser dentro das quatro linhas da Constituição”. Nunca comentei, mas recebi várias propostas, que vinham pelos Correios, que recebi em evento político. Tinha gente que colocava (o papel) no meu bolso, dizendo que era como tirar o Lula do governo. Advogados me mandavam como fazer utilizando o artigo 142, mas tudo fora da lei. Tive o cuidado de triturar. Vi que não tinha condições, e o Bolsonaro não quis fazer nada fora da lei. A pressão em cima dele foi uma barbaridade. Como o pessoal acha que ele é muito valente, meio alterado, meio louco, achava que ele podia dar o golpe. Ele não fez isso porque não viu maneira de fazer. Agora, vão prendê-lo por causa disso? Aquela proposta que tinha na casa do ministro da Justiça, isso tinha na casa de todo mundo. Muita gente chegou para mim agora e falou: “Pô, você sabe que eu tinha um papel parecido com aquele lá em casa. Imagina se pegam”.

Essas propostas circulavam entre pessoas do governo?

Direto. Teve advogada que veio conversar comigo dizendo que tinha uma saída. Eu dizia: “Põe no papel e manda para cá”. E eu não dava bola, porque eu sabia que não tinha. E o Bolsonaro não fez. O pessoal queria que ele fizesse errado.

E por que Bolsonaro ficava em silêncio diante das pessoas que pediam intervenção?

Baque. Isso pode ter sido um erro meu, dos políticos, que não o preparamos para uma possível derrota. Nunca tocamos nesse assunto, não passou isso pela cabeça dele. Quando fui lá na segunda-feira (após a eleição), ele estava um pó. Quando eu o vi após uma semana, eu achei que ele ia morrer. O cara estava desintegrando. Passaram três ou quatro semanas, e vi que ele melhorou. Perguntei o que era, e ele disse que estava comendo, porque ele ficava quatro ou cinco dias sem comer nada. O mundo dele virou de ponta-cabeça.

O senhor tem conversado com ele? Quando ele retorna ao Brasil?

Falo pouco, mas ele mandou gravado, para mim, outro dia que no final do mês estará aqui. Sempre falei pouco com Bolsonaro. Eu ia ao Palácio quase todo dia, mas falava pouco, porque o Bolsonaro não é de ficar conversando muito. Quero que ele volte, porque ele é muito importante para nós. Por exemplo, para conduzir essa bancada de direita que nós temos aqui. O pessoal é muito extrema-direita. Com Bolsonaro aqui, eu estou no céu. Eles ouvem Bolsonaro. Não vão ouvir a mim.

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