Os últimos dias têm sido pródigos no incenso a nomes da esquerda visando a disputa pela prefeitura de João Pessoa. Depois dos deputados estaduais Luciano Cartaxo e Cida Ramos, ambos do PT, surge agora como opção o secretário de administração do Estado, Tibério Limeira. Presidente do PSB da capital e com boas credenciais, ele tem sido apresentado por lideranças como nome ascendente e potencial representante das siglas progressistas. As especulações ganharam força a partir do encontro de siglas de esquerda da capital, ocorrido mês passado. Na teoria, tudo ok, mas alguns pontos tendem a travar essa construção.
Os dois mais profícuos dizem respeito aos interesses das duas maiores lideranças do campo progressista com poder de influência na capital: o presidente Lula (PT) e o governador João Azevêdo (PSB). A consolidação de uma candidatura de esquerda, por isso, vai depender da influência da correlação de forças nacional. Se a extrema-direita, alinhada a Jar Bolsonaro (PL), perder capilaridade e as forças progressistas crescerem a reboque do gestor petista, uma postulação de esquerda será factível. Caso permaneça o equilíbrio atual ou mesmo haja um revés petista, essa possibilidade tende a minguar.
O cenário mais provável, pelo que temos visto, é a manutenção da aliança entre João Azevêdo e o prefeito Cícero Lucena (PP). Os dois se aproximaram em 2020, quando muitos eleitores de esquerda acabaram votando no atual prefeito em contraposição ao então nome do bolsonarismo, o comunicador Nilvan Ferreira (PL). Este apoio ajudou a desequilibrar a disputa em prol de Cícero, que saiu vitorioso das urnas. Munido do desejo de estancar o avanço bolsonarista, o governador demonstrou interesse, recentemente, de manter essa parceria, inclusive “carimbando” a manutenção do atual vice na chapa, Léo Bezerra (PSB).
A leitura pragmática da relação entre os grupos é inequívoca: ela é necessária para a sobrevivência. Isso porque o eleitorado de João Pessoa passou por uma mudança ideológica significativa nos últimos anos. Ele virou mais conservador que o de Campina Grande, tradicionalmente ligado à direita. A eleição presidencial mostrou isso. Para se ter uma ideia, enquanto candidato ligado ao bolsonarismo (mesmo sem admitir), Pedro Cunha Lima (PSDB) foi mais votado na capital que João Azevêdo na disputa pelo governo do Estado. Por isso, é inequívoco dizer que uma candidatura puro-sangue da esquerda por aqui, dificilmente será efetivada.
E isso por um motivo simples: o eleitorado pessoense se tornou mais conservador, próximo da direita e da extrema-direita. Atualmente, é possível imaginar um nome conservador com potencial de chegar ao segundo turno. Isso caso Nilvan Ferreira, Cabo Gilberto, Marcelo Queiroga e Wallber Virgolino, todos do PL, consigam um acordo. E isso vai acontecer. Da direita, o nome mais provável é o do deputado federal Ruy Carneiro (PSC), que foi bem no último pleito. Todos eles poderão ter o apoio de Jair Bolsonaro, que, mesmo em declínio, apontou o caminho das pedras para os postulantes de direita.
Para enfrentar este estado de coisas, o mais provável é que grande parte da esquerda esteja alinhada a Cícero Lucena. Esta é uma previsão, também, do presidente estadual do PT, Jackson Macedo, para quem seria importante uma aliança ainda no primeiro turno. A opinião dele conflita com a do diretório municipal, um tradicional opositor interno, mas tem chances de ser chancelada por Lula, dependendo do clima existente até lá. Caso este cenário se consolide, não será difícil imaginar o petista dividindo o palanque com Cícero, situado ideologicamente no centro. As cenas dos próximos capítulos dirão o enredo desta história.
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