Uma frase atribuída ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), em 2003, acabou perseguindo o ex-mandatário durante todo o período em que esteve à frente do Planalto. Trata-se do “esqueçam o que escrevemos no passado, porque o mundo mudou e a realidade hoje é outra”. A máxima usada daquela época, por sinal, poderia ser usada agora, sem tirar nem por, para descrever a aproximação entre o ex-presidente Lula (PT) e o ex-governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSB). Os dois foram pródigos na troca de ofensas pessoais no passado e agora precisam regredir várias quadras para amenizar o que foi dito e escrito antes.
Mais um passo neste sentido foi dado nesta sexta-feira (8), em São Paulo, na apresentação de Alckmin como o indicado do PSB para vice de Lula. “Nós vamos precisar da minha experiência e da experiência do Alckmin para reconstruir o país, conversando com toda a sociedade brasileira”, disse o ex-presidente. “Política não é uma área de solitária, a força da política é centrípeta, nós vamos somar esforços aí pra reconstrução do nosso país. É lamentável, eu que entrei na vida pública, presidente Lula, como o senhor, lá atrás, para redemocratizar o Brasil, nós temos hoje um governo que atenta contra a democracia”, disse Alckmin.
Mas a situação não foi sempre assim. É verdade que os ataques eram mais comuns vindos de Alckmin em direção ao ex-presidente e menos no sentido contrário. Em 2017, ele cunhou uma das mais duras: “Depois de ter quebrado o Brasil, Lula diz que quer voltar ao poder. Ou seja, quer voltar à cena do crime. Será que os petistas merecem uma nova oportunidade? Fiquem certos de uma coisa, meus amigos: nós os derrotaremos nas urnas. #ConvençãoPSDB”, postou o ex-tucano no Twitter, quando ele se preparava para disputar as eleições presidenciais do ano seguinte.
Do lado petista, as ofensas nem sempre vinham do ex-presidente. Elas eram fundadas na crítica às privatizações e na falta de tempero do virtual candidato a vice-presidente na chapa que deve ser encabeçada por Lula. “Não é à toa que esse governador tem apelido de picolé de chuchu. É insosso, como se fosse comida sem sal. Nunca fala de nenhum problema do estado”, ironizou em 2014 o petista Alexandre Padilha, que foi candidato ao governo de São Paulo naquele ano. A fama de privatista também era trabalhada pelos petistas como um defeito.
O quadro agora é diferente. Depois de Lula e Alckmin terem ficado em lados opostos em 30 anos de disputas políticas, os dois usam a necessidade de vencer o presidente Jair Bolsonaro (PL) como pretexto para a união das duas lideranças. O primeiro desafio nesta caminhada não será o embate discursivo com o titular do Planalto, mas com o entulho discursivo dos muitos anos de embate que eles travaram. Entre os petistas, o senso é o de que o ex-governador agrega discurso de centro ao petista para a corrida eleitoral contra Bolsonaro, classificado sempre como um político de extrema-direita. O objetivo, por isso, é remover o rótulo de extremo.
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