Legislativo
Lei Padre Júlio Lancelloti: Congresso derruba veto de Bolsonaro e proíbe ‘arquitetura hostil’ a moradores de rua
16/12/2022 17:38
Suetoni Souto Maior
Padre Júlio Lancelloti quebra blocos de concreto embaixo de viaduto. Foto: Reprodução/Instagram

O Congresso Nacional derrubou nesta sexta-feira (16) o veto do presidente Jair Bolsonaro (PL) à proposta que proíbe o uso de materiais e estruturas destinados a afastar as pessoas em situação de rua de locais públicos – a chamada arquitetura hostil. O texto, que agora segue para promulgação, foi apelidada de Lei Padre Júlio Lancelloti. O tema surgiu após o religioso ligado à causa social aparecer embaixo de um viaduto quebrando blocos colocados pela prefeitura de São Paulo para impedir que moradores de rua dormissem no local.

No Senado, a derrubada do veto teve 60 votos favoráveis e apenas 4 contrários. Na Câmara dos Deputados, foram 354 votos pela derrubada do veto e 39 pela manutenção. O veto havia sido publicado na quarta-feira (14). A Presidência da República disse em nota que a expressão “técnicas construtivas hostis”, empregada no projeto, poderia gerar insegurança jurídica, por se tratar de “terminologia que ainda se encontra em processo de consolidação para inserção no ordenamento jurídico”.

O Projeto de Lei 488/21 é de autoria do senador Fabiano Contarato (PT-ES). O parlamentar decidiu apresentar a matéria após tomar conhecimento da atitude do padre, que viralizou nas redes sociais.

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Preocupação humanitária
Contarato comemorou a inclusão do veto na pauta antes do prazo e afirmou que a lei tem preocupação humanitária. “O Estatuto das Cidades tem de ser inclusivo. Essas técnicas de utilização de vergalhões, correntes, instrumentos pontiagudos, têm o único objetivo de valorizar o patrimônio em detrimento do acolhimento da população em situação de rua”, disse.

Ele ressaltou que a pandemia aumentou o número das pessoas que moram na rua e elogiou o trabalho social do Padre Júlio Lancelotti. “É um verdadeiro humanista, aguerrido, que tem um olhar voltado aos marginalizados, aos que mais precisam”, disse.

Ele cobrou que os municípios revejam os planos diretores das cidades para romper com as construções agressivas à população mais vulnerável.

O líder do PT, deputado Reginaldo Lopes (MG), afirmou que a proposta é um marco no acolhimento da população. “Os gestores públicos deveriam ter um diálogo e políticas públicas para melhorar a qualidade de vida da nossa população em situação de rua e não ter métodos construtivos hostis a essa população”, disse o líder.

Apenas o partido Novo votou a favor da manutenção do veto. A deputada Adriana Ventura (SP) afirmou que o texto tem boa intenção, mas fere a autonomia dos municípios. “Eu entendo a questão humanitária, mas desumano é o poder público não dar conta de cuidar da população de rua: dar barraca, cobertor e não dar moradia”, criticou.

Humanização das cidades
O deputado Orlando Silva (PCdoB-SP), que foi relator da proposta na Câmara, disse que a lei é uma ferramenta contra o preconceito e o ódio aos pobres e às pessoas em situação de rua. “É muito importante que o poder público adote medidas para a humanização das cidades, adote medidas para o acolhimento dessas pessoas. Ninguém vive na rua por opção, por querer, são as circunstâncias que levam a isso”, disse Silva.

Com informações da Agência Câmara de Notícias

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