Quem foi ao auditório da Reitoria da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) nesta segunda-feira (26) para ouvir o ministro da Educação, Milton Ribeiro, saiu decepcionado, salvo se seu interesse estrito tiver sido a pauta ideológica. Ao longo de pouco mais de 28 minutos, o auxiliar do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) não disse uma palavra sobre os milhares de estudantes que ficaram sem aulas durante a pandemia. Também não disse como, efetivamente, vai melhorar as condições de ensino e os índices da educação básica, média e superior.
Sobre educação e metas teve muito pouco. Mas quando o assunto disse respeito à pauta de costumes… aí, sim, a oratória foi farta. Isso apesar de o tema da aula magna ter sido “Avanços e Desafios da Educação”. O ministro começou criticando o baixo nível de alfabetização de crianças, exemplificando com a afirmação de que há crianças que não sabem que a junção de “b” com “a” é “bá”, mas que já sabem colocar camisinha. Podemos achar estranho esse comparativo, mas essa foi a porta de entrada para o discurso acalorado contra questões relacionadas à educação de gênero.
Imaginamos que um discurso que se inicia com a crítica à baixa alfabetização teria como passo seguinte o anúncio de um programa sério de investimento na educação, com mais livros e melhor estrutura nas escolas. Algo tipo estimular aula integral e alguma forma de incentivo para que pais miseráveis mantenham os filhos em sala de aula. Mas a oratória continuou na seara confusa de questões de gênero, que o ministro confunde com questões de sexo biológico. “Não que eu seja contra a este assunto [orientação sexual para criança], respeito a orientação de todos, mas acho que não temos o direito de violar a pureza de uma criança nessa idade de 6 a 10 anos”, disse o ministro.
Mas não acaba por aí. Ainda teve a “crème de la crème” da oratória conservadora. Se referindo à “oposição”, ele argumentou que a crítica à retirada do tema de questões de gênero de livros didáticos aconteceu porque queriam incentivar a livre opção sexual. “Se você quiser ser homem, você é homem, se quiser mulher, é mulher. A biologia, a natureza diz que ele é homem, é XY, mas eles querem dizer que a pessoa pode escolher o que quer. Não pode ser assim”. A frase confunde livros que incentivam o respeito à diversidade com uma ideologia obtusa que diz que ao conhecer opções de gênero diversas as crianças serão levadas a algum “descaminho”.
“Sou bem radical, podem me chamar de radical”, disse o ministro que confunde sexo biológico com gênero em um país marcado pela descriminação e violência contra pessoas LGBTQIA+. A retórica, marcada pelo discurso que aponta questões de costumes como problemas de estado, seguiu sem oposição ou crítica dos poucos presentes à Reitoria, enquanto dezenas de pessoas usavam o chat disponibilizado pelo perfil da UFPB no YouTube, que transmitiu a aula magna, para atacar o ministro.
Milton Ribeiro também demonstrou surpresa com a grandiosidade do Ministério comandado por ele. Demonstrou surpresa, também, com o fato de o país ter 48 milhões de alunos. Falou, inclusive, que quer melhorar a base da educação para que deixem de chegar analfabetos funcionais na universidade. Só não foi dada informação sobre como isso vai funcionar. Do ponto de vista prático, quem foi à aula magna à procura de informação, saiu de lá decepcionado.