Legislativo
Desafio de Queiroga na CPI será provar ter a autonomia que faltou aos antecessores
05/05/2021 20:33

Suetoni Souto Maior

Marcelo Queiroga é o quarto ministro a conduzir a Saúde desde o início da pandemia . Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado

O ministro Marcelo Queiroga (Saúde) não terá vida fácil na CPI da Pandemia nesta quinta-feira (5). O paraibano é o terceiro entre os que tiveram assento na pasta a prestar depoimento. O antecessor, o general Eduardo Pazuello, pediu adiamento da oitiva alegando contato com pessoas que testaram positivo para Covid-19 nos últimos dias. De resto, pelo que vimos até agora, após depoimentos de Henrique Mandetta e Nelson Teich, o problema na pasta é a falta de autonomia para quem queira decidir de acordo com a ciência sobre como enfrentar a pandemia do novo Coronavírus.

Queiroga é médico cardiologista, é da área, e tem adotado um discurso distinto do apregoado pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Ele prega o isolamento social e o uso de máscara, apesar de as medidas serem ignoradas pelo presidente. Um tema espinhoso diz respeito ao tratamento precoce com uso de cloroquina e hidroxicloroquina, defendido pelo chefe do Executivo ao longo da pandemia. Este foi um dos motivos alegados por Nelson Teich para ter deixado o Ministério da Saúde.

Da mesma forma, e por uma série de outros motivos, Henrique Mandetta deu adeus à pasta. O único que topou o discurso e colocou em prática no grau máximo de aceitação as regras ditadas pelo presidente foi Pazuello. O general do Exército, diga-se de passagem, mandou cloroquina para resolver o problema da falta de oxigênio em Manaus na crise registrada no início do ano. As decisões erradas passaram ainda pela rejeição da compra de vacinas ofertadas por vários laboratórios.

A falta de autonomia, vale ressaltar, esteve entre os argumentos utilizados pela médica Ludhmila Hajjar para não aceitar o comando do Ministério antes mesmo de ele ser oferecido a Queiroga. Ela alegou falta de convergência com o presidente após reunião. E deve vir desta questão técnica outro questionamento que será feito a Queiroga. O de que o comitê científico constituído pelo Ministério da Saúde para apontar protocolos de tratamento famacológico recomendou o não uso de cloroquina e hidroxicloroquina pelos pacientes.

Afora disso, a falta de vacinas deve estar entre os questionamentos. Isso porque tanto o antecessor quanto o próprio Queiroga recomendaram, em certo momento, que os municípios não guardassem a segunda dose da vacina. A ideia era que a imunização andasse mais rápido. A medida, para dar certo, necessitaria de fornecimento perene das vacinas, o que não aconteceu. O resultado foi o caos em vários estados, inclusive a Paraíba, por causa da falta dos imunizantes necessários para a continuidade da campanha de vacinação.

Depoimento

O depoimento de Marcelo Queiroga está previsto para ter início às 10h. No mesmo dia, a partir das 14h, será ouvido o diretor-presidente da Agência de Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Antonio Barra Torres. Queiroga está à frente do Ministério da Saúde desde 23 de março deste ano. Ele assumiu a pasta quando as mortes pela Covid-19 giravam em torno de 300 mil no Brasil. Entramos nesta quarta-feira na marca de 414 mil pessoas mortas em decorrência da pandemia.

O ministro é fortemente cobrado pela vacinação em massa da população. Há poucos dias, em 26 de abril, Queiroga participou de audiência pública da Comissão Temporária da Covid-19 (CTCOVID19)

À época, Queiroga afirmou que o governo não reduziu suas metas iniciais de imunização, apenas retirou do cronograma vacinas que ainda não foram aprovadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), como a indiana Covaxin, que inicialmente teria previsão de 20 milhões de doses em calendário do Ministério da Saúde.

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