Os dias que se seguiram à derrota do presidente Jair Bolsonaro (PL) nas urnas para o ex-presidente Lula (PT) foram tensos nas rodovias, com protestos de apoiadores do mandatário. A demora do gestor em reconhecer a derrota foi vista por ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) como estímulo à desordem. Mas aos poucos, os sinais vindos do Palácio do Planalto foram mudando, fundados no entendimento de fim de ciclo. O primeiro a se manifestar foi o vice-presidente Hamilton Mourão (PRTB), eleito senador pelo Rio Grande do Sul.
Mourão mandou mensagem para o vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin (PSB), se colocando à disposição para a transição. A manifestação mereceu atenção do socialista, que agradeceu. Em entrevista publicada em O Globo, nesta quarta-feira (2), Mourão deu o tom de “bola pra frente”. “Existem 58 milhões de pessoas inconformadas, mas aceitaram participar do jogo. Então tem que baixar a bola, disse o futuro parlamentar, deixando claro que, na opinião dele, não houve fraude. Ele acha que Lula não deveria ter participado da eleição, mas entende que participando, ganhou o pleito de forma limpa.
O presidente Jair Bolsonaro foi mais econômico nas palavras, mas reconheceu que perdeu as eleições ao agradecer os pouco mais de 58 milhões de votos recebidos. Foi a maior votação já dada a um derrotado no Brasil, o que o credencia para disputas futuras, caso não seja impedido pela Justiça Eleitoral ou outras condenações decorrentes de atos antidemocráticos ou ainda decorrentes da gestão. Em reunião ocorrida logo após a entrevista coletiva, nesta terça, ele conversou com ministros do Supremo. Do encontro, Luiz Edson Fachin, titular da Corte, disse ter ouvido do mandatário que “acabou”, não haveria contestação do pleito.
Essa estabilidade democrática vinda da ala política do governo, que ganhou a queda de braço com a ideológica, contrasta com a radicalização dos eleitores mais reacionários do presidente. Na coletiva, Bolsonaro chegou a criticar os apoiadores que têm interditado rodovias e avenidas pelo país. Ele os comparou ao que atribui ser o comportamento da esquerda.
“Os atuais movimentos populares são fruto de indignação e sentimento de injustiça de como se deu o processo eleitoral. As manifestações pacíficas sempre serão bem-vindas, mas os nossos métodos não podem ser os da esquerda, que sempre prejudicaram a população, como invasão de propriedade, destruição de patrimônio e cerceamento do direito de ir e vir”, afirmou o presidente.
Dito isso, a área técnica recebeu sinal verde para a transição. O ministro Paulo Guedes (Economia) disse que o trabalho será tranquilo e fez ponderações sobre o choro governista. “Vai ter transição. Será tranquila. Mas primeiro tem o luto do lado de cá, depois a manifestação do presidente, que já ocorreu, e depois vem a transição”, disse, sinalizando que a cooperação, prevista em lei, ocorrerá sem problemas.
O ministro Ciro Nogueira (Chefia de Gabinete) vai conduzir os entendimentos com o novo governo. “O presidente Jair Bolsonaro me autorizou, quando for provocado, com base na lei, nós iniciaremos o processo de transição”, disse. “A presidente do PT, segundo ela em nome do presidente Lula, disse que na quinta-feira será formalizado o nome do vice-presidente Geraldo Alckmin. Aguardaremos que isso seja formalizado para cumprir a lei do nosso país”, prosseguiu.
Durante esta quarta-feira (2), Dia de Finados, apoiadores do presidente farão manifestações em vários pontos do país, principalmente em frente aos quartéis das Forças Armadas. Muitos cobram intervenção militar, em clara afronta aos princípios constitucionais. Mas tudo isso vai passar…
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