Legislativo
“Casa da democracia” vira cenário de repressão: indígenas são atingidos com gás na marcha do Acampamento Terra Livre
11/04/2025 09:35
Suetoni Souto Maior
Indígenas são atacados com gás em Acampamento Terra Livre. Foto: Richard Wera/Apib

O Acampamento Terra Livre — maior mobilização indígena do país — terminou a quinta-feira (10) com bombas de gás e tumulto em frente ao Congresso Nacional. Policiais legislativos das duas Casas usaram agentes químicos para conter a aproximação dos manifestantes. A justificativa oficial: impedir a entrada do grupo no prédio. A versão dos indígenas: o combinado era outro, e ninguém rompeu perímetro algum.

Dois pontos destoam nesse episódio. O primeiro é simbólico: a repressão partiu justamente de dentro do local que deveria acolher o diálogo. O segundo é o relato da deputada federal Célia Xakriabá (Psol-MG), que passou mal após inalar gás lacrimogêneo. Em vídeos, ela aparece repetindo que é parlamentar, mas sem ter a passagem liberada. “Impedia minha saída, fui constrangida, agredida”, denunciou. Precisou ser atendida na própria Câmara.

Além da deputada, duas mulheres indígenas foram levadas a unidades de saúde com mal súbito, segundo o Corpo de Bombeiros do Distrito Federal. Ambas estavam conscientes e estáveis.

A Câmara dos Deputados alegou que o movimento descumpriu o acordo, avançando além da Avenida José Sarney. A Apib (Articulação dos Povos Indígenas do Brasil), por sua vez, contesta a versão e diz que o avanço ao gramado do Congresso foi pacífico, sem depredações. Classificou a reação como “violência institucional”.

A nota da Apib é contundente: acusa o Congresso de ser anti-indígena e critica o uso de bombas contra mulheres, idosos, crianças e lideranças. Aponta também uma fala de cunho racista, proferida em uma reunião anterior com representantes da Secretaria de Segurança Pública do DF: “Deixa descer e mete o cacete se fizer bagunça” — trecho que teria sido captado em gravação obtida pela organização.

Já o Senado preferiu destacar o uso de “meios não letais” e o respeito às manifestações pacíficas — ainda que tenha ocorrido repressão a uma delas.

A marcha indígena fez parte da 21ª edição do ATL. Com o tema “A resposta somos nós”, reuniu cerca de 7 mil pessoas. O grupo reivindica o fim da era dos combustíveis fósseis, uma transição energética justa e o reconhecimento do papel dos povos originários na preservação ambiental.

Mas o que se viu nesta quinta-feira não foi escuta, nem negociação. Foi gás. Foi correria. E foi mais um episódio que empurra para os bastidores a pauta indígena — aquela que muitos preferem não ver, nem ouvir.

Por: Beatriz Souto Maior

Quer receber todas as notícias do blog através do WhatsApp? Clique no link abaixo e cadastre-se: https://abre.ai/suetoni

Palavras Chave