O Acampamento Terra Livre — maior mobilização indígena do país — terminou a quinta-feira (10) com bombas de gás e tumulto em frente ao Congresso Nacional. Policiais legislativos das duas Casas usaram agentes químicos para conter a aproximação dos manifestantes. A justificativa oficial: impedir a entrada do grupo no prédio. A versão dos indígenas: o combinado era outro, e ninguém rompeu perímetro algum.
Dois pontos destoam nesse episódio. O primeiro é simbólico: a repressão partiu justamente de dentro do local que deveria acolher o diálogo. O segundo é o relato da deputada federal Célia Xakriabá (Psol-MG), que passou mal após inalar gás lacrimogêneo. Em vídeos, ela aparece repetindo que é parlamentar, mas sem ter a passagem liberada. “Impedia minha saída, fui constrangida, agredida”, denunciou. Precisou ser atendida na própria Câmara.
Além da deputada, duas mulheres indígenas foram levadas a unidades de saúde com mal súbito, segundo o Corpo de Bombeiros do Distrito Federal. Ambas estavam conscientes e estáveis.
A Câmara dos Deputados alegou que o movimento descumpriu o acordo, avançando além da Avenida José Sarney. A Apib (Articulação dos Povos Indígenas do Brasil), por sua vez, contesta a versão e diz que o avanço ao gramado do Congresso foi pacífico, sem depredações. Classificou a reação como “violência institucional”.
A nota da Apib é contundente: acusa o Congresso de ser anti-indígena e critica o uso de bombas contra mulheres, idosos, crianças e lideranças. Aponta também uma fala de cunho racista, proferida em uma reunião anterior com representantes da Secretaria de Segurança Pública do DF: “Deixa descer e mete o cacete se fizer bagunça” — trecho que teria sido captado em gravação obtida pela organização.
Já o Senado preferiu destacar o uso de “meios não letais” e o respeito às manifestações pacíficas — ainda que tenha ocorrido repressão a uma delas.
A marcha indígena fez parte da 21ª edição do ATL. Com o tema “A resposta somos nós”, reuniu cerca de 7 mil pessoas. O grupo reivindica o fim da era dos combustíveis fósseis, uma transição energética justa e o reconhecimento do papel dos povos originários na preservação ambiental.
Mas o que se viu nesta quinta-feira não foi escuta, nem negociação. Foi gás. Foi correria. E foi mais um episódio que empurra para os bastidores a pauta indígena — aquela que muitos preferem não ver, nem ouvir.
Por: Beatriz Souto Maior
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