Os 100 primeiros dias do terceiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) estão sendo marcados por avaliações proporcionais à paixão de apoiadores e adversários. De um lado, os comentários têm sido positivos ou, quando muito, de que é preciso paciência para a reconstrução do país. Do outro, a linha é de que a nova gestão não mostrou a que veio ou que está banhada em retrocessos. Algo parecido com o ocorrido no início da gestão do antecessor, Jair Bolsonaro (PL). Só que este último fracassou na tentativa de reeleição.
O que se vê de fato, analisando de forma fria, é que vai ser preciso tempo para que a nova gestão cumpra o prometido: mudar o curso do que vinha sendo feito pelo governo anterior, tanto na economia como na pauta de costumes. É bom lembrar que esta última teve atenção maior que o recomendável sob Bolsonaro. A principal evolução que precisa ser avaliada na atual gestão é o reposicionamento do Brasil no exterior, com a volta das relações com os países latinos e com os principais players internacionais. A relação com os Estados Unidos voltou a ter tom mais pragmático e menor submissão, o que é positivo.
As incertezas são vistas com maior frequência no campo econômico. As relações do presidente Lula com o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, passam longe do recomendado. O gestor não tolera a política de juros imposta pelo órgão. A taxa de 13,75% da Selic é vista por governistas e economistas conceituados como recessiva, o que impossibilita o crescimento econômico. A crise do crédito tem feito com que empresas fechem as portas ou coloquem os trabalhadores em férias coletivas. Isso ocorre, principalmente, na indústria automobilística.
O ponto positivo tem sido o novo arcabouço fiscal apresentado pelo ministro Fernando Haddad (Economia), que prevê controle na elevação dos investimentos em políticas públicas, redução do déficit nas contas e busca de superavit fiscal. A medida precisa ser votada no Congresso, assim como a tão esperada reforma tributária. Estas duas precisarão de grande atenção do governo federal por causa dos jabutis que podem ser inseridos por deputados e senadores e que podem piorar ou inviabilizar os textos. Se as duas medidas passarem com poucas mudanças, a economia poderá dar resposta mais rápido, o que seria bom para todos.
O início do governo foi conturbado, também, na pasta ligada ao ministro Flávio Dino (Justiça). Logo nos primeiros dias de governo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva se deparou uma grave crise humanitária, herdada da administração anterior e caída em seu colo: a morte e a miséria que assolou os indígenas da etnia yanomami, submetida a quatro anos de desassistência em diversas dimensões, acrescentada pelo agravamento de invasões de garimpeiros ilegais. Antes disso, houve também a tentativa de golpe do dia 8 de janeiro, quando apoiadores do ex-presidente Bolsonaro invadiram e depredaram as sedes dos Três Poderes.
Na área social, foi importante a recomposição do Bolsa Família, retirando do programa pessoas que não precisavam, mas que foram inseridas sem controle pelo antigo governo. Foi importante também a recomposição da agenda dos direitos humanos e a criação de um ministério para cuidar dos povos originários. Teve além disso a recriação do Mais Médicos com novo perfil de trabalho e melhorias voltadas para a produção de ciência, na área da educação. As bolsas de estudo tiveram os valores elevados, facilitando a busca de novos pesquisadores.
Uma reunião ministerial será realizada nesta segunda-feira para a apresentação de um balanço das ações. Muito do que foi prometido durante a campanha não saiu do papel, mas é possível dizer que é cedo para se cobrar tudo de uma vez. Agora, é importante dizer que em um país dividido como o nosso, não dá para marcar passo.
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